A delação do fim do mundo, como está sendo chamada a segunda lista de políticos citados por executivos da Odebrecht ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não pode ser o fim do Brasil. Independentemente dos governantes, ministros e parlamentares que forem efetivamente investigados com autorização do Supremo, o governo e o Congresso não podem ficar paralisados enquanto o Judiciário faz a sua parte. O desafio das autoridades responsáveis, nestes dias de tensão em Brasília, será manter a governabilidade e dar andamento às reformas estruturais que estão sendo implementadas. Se a preocupação dos suspeitos é salvar a própria pele, a dos demais tem de ser um pacto pela normalidade do país.
Até por uma questão de sobrevivência no cargo até 2018, o presidente Michel Temer tem de mostrar à população que seu governo não vai parar, mesmo que alguns assessores diretos sejam abatidos pelas denúncias. Ao que tudo indica, esta estratégia de manter uma agenda positiva já está em andamento, como se viu recentemente na visita presidencial à Paraíba para inaugurar mais uma etapa da transposição do Rio São Francisco e nas articulações com a base aliada para o exame da reforma da Previdência.
O Congresso é que parece mais afetado pela perspectiva do listão. Se as lideranças não tiverem maturidade para separar a agenda econômica da política, o risco de paralisação será grande. Os deputados e senadores que colocam como prioridade a anistia ao caixa 2 não só estão passando um atestado de culpa como também estão desconsiderando os interesses maiores da sociedade, que são o enfrentamento da crise econômica e a superação do desemprego.
A todos deve ser assegurado amplo direito de defesa. Mas os brasileiros precisam saber, acima de tudo, quais lideranças políticas estão efetivamente dispostas a contribuir para o encerramento deste ciclo de irresponsabilidade e corrupção que levou o país à atual situação.