Confrontado com contradições de sua vida jurídica e de sua carreira política, questionado sobre situações futuras em que poderá ter que julgar ex-companheiros de governo e de partido, pressionado mais do que se poderia esperar de um candidato com apoio majoritário no Senado, o ministro licenciado da Justiça Alexandre de Moraes passou com serenidade pela sabatina da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Alta, penúltimo obstáculo para chegar ao Supremo Tribunal Federal. Agora, falta-lhe passar pelos questionamentos do plenário, onde também conta com ampla maioria favorável à sua indicação.
Quando o presidente Michel Temer indicou um dos seus assessores diretos para a vaga do ministro Teori Zavascki, a suspeição tornou-se mais forte do que as reconhecidas qualificações do indicado no que se refere ao "notável saber jurídico" e à "reputação ilibada" exigidos pela Constituição. O nome de Moraes, ministro da Justiça de um governo que está sendo investigado pela Operação Lava-Jato, foi recebido com desconfiança e como parte de um suposto plano de blindagem dos governantes e parlamentares já citados por delatores.
Todas as suspeitas – do suposto plágio em uma de suas obras jurídicas à perseguição partidária – foram lançadas sobre o sabatinado por senadores de oposição, e a maioria recebeu respostas coerentes e bem fundamentadas. Ele se esquivou apenas de antecipar a posição que assumirá caso tenha que julgar ex-companheiros de governo e de partido, assegurando que seguirá fielmente a Constituição. Moraes, caso seja aprovado na sabatina do plenário, não será o primeiro ministro com histórico de militância político-partidária. Resta esperar que faça jus à tradição do Supremo e mantenha o distanciamento e a isenção exigidos pelo cargo.