Quando o governo anunciou o corte das fundações estaduais, tive duas desconfianças. A primeira era sobre a retirada da necessidade de consulta à população. Não ser ouvido na decisão de desfazer ativos do Estado, ou seja, patrimônio de todos os gaúchos, me parecia errado. A segunda dizia respeito ao risco de essa decisão ser meramente gestual. Sartori e Feltes poderiam estar querendo criar uma falsa imagem de guardiões da eficiência na máquina pública.
No entanto, ao observar a situação das finanças do Estado, e ao lembrar que a administração indireta é concebida exatamente para ser mais flexível, para poder ser reduzida quando necessário, eu relevei e me calei. Pareciam justificativas suficientes, à época.
Pois agora fica claro que errei. Eu deveria ter me manifestado contra os cortes. Ou exigido um plano de contingência consistente.
Veja o caso da Fundação Piratini. O governo percebeu que ter um canal de televisão e equipamentos vale dinheiro. Logo ativou o discurso "não podemos desperdiçar esses recursos". Contratou uma equipe para se encarregar dos cortes e criar, com recursos já existentes, uma televisão estatal. Diferente da emissora pública que havia antes, focada em cultura, teremos um canal aberto que mostrará a doce rotina do Poder Executivo estadual. Por quase o mesmo preço.
E o caso da FEE? Parte relevante dos servidores não poderá ser demitida. As pesquisas econômicas, fundamentais para formular políticas públicas e abastecer dados econômicos nacionais, provavelmente serão contratadas de consultorias privadas. Sabemos que o mercado de consultores econômicos é uma concorrência bastante imperfeita, e que não vai haver ganho substancial aos cofres públicos, ainda mais quando consideramos que parte do custo da estrutura atual seguirá existindo.
O governo tenta ceder o patrimônio da Zoobotânica a instituições federais que se comprometam a mantê-lo. Acontece que esse patrimônio tinha muito mais valor quando somado do que agora, separado em partes. Talvez ninguém o queira dessa forma.
O pior de tudo é que, ao me ver obrigado a usar o espaço de minha coluna para admitir meu erro, deixo de discutir o que realmente importa. Não dou a devida importância às rubricas orçamentárias que realmente estão inchadas, na Previdência, no pagamento da dívida. Não falo o suficiente sobre o pacto federativo, que precisa urgentemente ser revisado. Ou seja, caio na armadilha retórica do Sartori, do Feltes e do partido que está no poder no Rio Grande do Sul e em Brasília: falo daquilo que menos importa enquanto eles permanecem no poder.