A clássica cena de diretores do Fundo Monetário Internacional reunindo-se com ministros e presidentes brasileiros nas décadas de 1980 e 1990, constrangendo por medidas econômicas, de triste lembrança, e felizmente encerrada no governo Lula, pode se repetir, mas agora em nível local. A proposta em gestação pelo governo Temer para a negociação das dívidas dos Estados quebra o pacto federativo ao querer impor uma verdadeira intervenção federal nos Estados que venham a aderir ao Plano de Recuperação. Se aprovada, a União passará a ser o "FMI" dos Estados, pois retira a autonomia administrativa do Poder Executivo estadual; obriga a vender praticamente todo o seu patrimônio; proíbe a contratação de novos servidores e a realização de concursos, inclusive para serviços públicos essenciais (saúde, educação, segurança); impede reajustes ao funcionalismo; exige teto para os gastos públicos, a exemplo da PEC 241 do governo Temer, que limita por 20 anos o orçamento público; impede o saque dos depósitos judiciais; e inviabiliza a possibilidade de contratar novos financiamentos.
Com requintes de humilhação aos Estados, a proposta prevê ainda que cada "beneficiado" será acompanhado in loco por um Conselho de Supervisão, formado por técnicos do governo federal, que nada mais será do que uma "comissão de intervenção" para fiscalização das metas impostas. Temer, com apoio do governador Sartori, pretende impor um enorme sacrifício ao povo gaúcho, com serviços públicos congelados e o futuro vendido.
O Estado será penalizado pelo pior acordo da dívida já feito na sua história desde a negociação conduzida pelo então governador Antônio Britto em 1996, coincidentemente do mesmo partido de Temer e Sartori, o PMDB. A sociedade gaúcha não aceitará pagar mais uma vez por uma dívida que na origem era de R$ 7,9 bilhões e da qual, após quase 20 anos desde a renegociação, restam ainda cerca de R$ 60 bilhões a pagar. A proposta é inaceitável. A sociedade, o parlamento gaúcho e o Congresso Nacional devem estar unidos para impedir a intervenção sobre os Estados e o fim do pacto federativo.