Por que não foi uma empresa de fotografia que inventou o Instagram? Por que um estúdio de cinema não criou a Netflix? Por que não foi um gigante da indústria editorial que criou a Amazon ou o Google? Por que o Hilton não teve a ideia do Airbnb? E por que uma montadora não pensou no Waze ou no Uber? Não teria sido mais barato o Facebook inventar o WhatsApp do que comprá-lo depois?
Será que isso é apenas a dinâmica natural dos modelos de negócio ou também um sinal dos tempos? Afinal, neste mundo turbulento, líquido e cada vez mais complexo, quem está no dia a dia do seu próprio negócio provavelmente precisa dedicar toda a sua energia para controlar os riscos e manter o foco no seu planejamento. E, por consequência, talvez dedique energia de menos para voos mais altos, saltos mais livres, invenções mais ousadas e arriscadas. Nunca se falou tanto em inovação, mas, em muitos casos, parece mais como aquela praia paradisíaca para onde se sonha ir nas férias, se o preço não fosse tão caro. É difícil, nestes tempos corridos, olhar a floresta mais do que a árvore. Ou, dito de outra maneira, é difícil olhar a paisagem quando se está a 200 km/h. Só que é justamente assim que se bate no muro.
As agências de propaganda, os veículos de comunicação, as produtoras de comerciais, as gráficas e toda a cadeia da indústria da comunicação têm, diante de si, o desafio de não verem outros players de outras indústrias reinventarem o seu próprio negócio, como todos os exemplos citados no início deste texto. Os alarmes são o big data, a internet das coisas, a realidade aumentada, os assistentes virtuais e toda a disrupção acelerada das novas tecnologias. E, junto com isso, e por causa disso, a mudança no mindset coletivo, com novos comportamentos offline gerados pelos comportamentos online. Tudo isso, somado à dificuldade de se olhar um palmo à frente do seu próprio negócio quando é ele que está em risco, colocam o momento atual como o mais desafiador da história para a manutenção de um ecossistema de comunicação livre, plural, saudável economicamente e influente socialmente. E se engana quem, a título de crucificar a publicidade, imagina que salva o jornalismo. Ou quem, a pretexto de elogiar o digital, prenuncia o fim do papel. São poucas as indústrias em que a correlação de forças é tão umbilical, e não há jornalismo forte sem publicidade forte, nem digital sólido sem um contexto cultural multifacetado que relativize sua influência.
É hora da reinvenção. Só falta saber pra onde.