A indisposição dos produtores rurais com o enredo da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense para o próximo Carnaval é incompreensível e chega ao exagero. Há manifestações na Câmara Federal, notas oficiais, e o colegiado dos secretários estaduais da Agricultura também entrou na corrente intolerante e repressora à livre manifestação do pensamento. Censura, como nos velhos tempos das ditaduras. Berram sem ler a sinopse do enredo e sem compreender a letra do samba. Lembro-lhes a Constituição Federal, que estabelece como direito fundamental "a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença".
Direitos também assegurados aos que têm protestado, mas cabendo esclarecer-lhes que estão partindo de premissas erradas. Há quatro anos, o agronegócio patrocinou o
desfile da Vila Isabel, campeã com A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo, em que as atividades dos produtores foram exaltadas. Indústria multinacional produtora de defensivos agrícolas pagou uma parte da produção. Outra vez, foi a Beija-Flor vice-campeã, enaltecendo a criação do cavalo mangalarga marchador. A mesma escola que, em 2017, prestará tributo à miscigenação entre índios e brancos.
O enredo da Imperatriz trata de índios e brancos em outra vertente, pois enfoca o conflito de interesses entre as populações indígenas e os que foram ao paraíso natural do Xingu para expulsá-los, tomando-lhes as terras e degradando o ambiente. Uma ala da verde e branco de Ramos mostrará agricultores e agrotóxicos, o que ninguém terá coragem de negar como espelho de uma triste realidade. Não está dito que todos do meio rural sejam destruidores da natureza, mas há a correta denúncia de que isso acontece. Essa parte do enredo serve até para defender os bons agricultores.
Incabível a barulheira que estão fazendo. Melhor seria que entendessem a mensagem, antes da repressão. Sem censura, por favor.
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