Saúde em crise por falta de recursos virou manchete recorrente. Mas há um ângulo pouco abordado nessa questão: a incompetência no uso dos recursos. O segmento hospitalar do RS é atendido por hospitais filantrópicos, dois terços da sua rede. A cadeia de comando começa com provedores e Conselhos, usualmente muito dedicados e pouco familiarizados com o setor. Um ciclo de pouca ação e muito choro tem início. Esse grupo escolhe um administrador. Houve avanço na profissionalização, mas ainda tem muita improvisação e compadrio.
Os problemas se multiplicam: os serviços rentáveis (diagnóstico por imagem, hemodiálise) estão na mão de médicos. Áreas enormes são cedidas a serviços terceirizados, de graça ou com baixos aluguéis. As especialidades médicas, normalmente, são exercidas por um ou poucos médicos, o que lhes atribui um poder de barganha inquestionável. Os generalistas sobrecarregam-se de plantões, muito além do que poderiam executar com eficiência. As internações, remuneradas pelo SUS com base em um número de dias de permanência, mantêm os pacientes, em média, 40% de tempo além do previsto.
Segundo relatório do TCU de 2016, com base em auditorias em 116 hospitais do país, 53% das unidades apontaram carência de instrumentos de gestão, como controles de saída e distribuição de medicamentos. Além disso, os funcionários da saúde sempre veem soluções através do aumento de quadro; aumento de produtividade ou revisão de processos não faz parte do seu dicionário. Medidas de aumento de eficiência e redução de custos, como padronização de medicamentos, disciplinamento de prescrição e alta e controle de médias de permanência encontram do lado médico a resistência e do lado da gestão a complacência. E segue a lamúria pela crise.
Prefeitos e vereadores resistem a destinar aos hospitais os pacientes que, efetivamente, dele precisam. Toda emergência hospitalar é um ambulatório, aquele que o poder público municipal não teve competência para prover em outro local pois seus médicos, em geral, recebem mal e trabalham pouco. Governos socorrem as entidades, contando votos, mas sem meios eficientes de fiscalização ou cobrança de melhorias da gestão. E, enquanto o problema estiver circunscrito a ciclos políticos de curto prazo, oportunismos eleitorais, predomínio dos interesses de fortes corporações e amadorismo na gestão, a crise na saúde, independentemente do volume de recursos destinados, será de difícil, senão impossível solução.