A crise da segurança é tema atual. Porém não é de hoje que abandonamos a vida na rua. A cidade próspera, num conceito definido pela ONU-Habitat, deve apresentar um bom padrão de desenho urbano e reconhecer a relevância de espaços públicos bem planejados. Afinal, é isso que incentiva as pessoas a aproveitarem a cidade.
"A presença de 'outros' indica que um lugar é considerado bom e seguro", diria o reconhecido urbanista Jan Gehl, autor do livro Cidades para Pessoas. Qualquer um se afasta de locais escuros, sem vida, sem algo para fazer. Numa busca por segurança – e também por falta de planejamento urbano – viramos de costas para a rua, perdemos a riqueza das edificações que trazem mais de uma função e já não encontramos a empatia necessária de cuidar do espaço comum. Em busca de segurança individual, criamos a insegurança coletiva.
É na calçada que as pessoas se cruzam. É onde o público, a rua, se conecta com o privado, as edificações. E não tenho dúvidas de afirmar que boa parte das cidades brasileira está carente, justamente, de tais conexões. A combinação de espaços abertos – praças, parques, calçadas – e construídos sinaliza que o bem-estar, assim como o desempenho no trabalho, na moradia e no lazer, depende de ambientes bem projetados e adequados.
Todo o espaço deve carregar significado. É isso que transforma espaço em lugar. E é isso que faz com que as pessoas se apropriem dele. A recém-inaugurada Praça Júlio Mesquita, localizada em frente à Usina do Gasômetro, pode ser um exemplo. Um deck de madeira, uma quadra de futebol, equipamentos para exercícios e um parquinho infantil. E muita gente que trabalha. E muita gente que mora no entorno.
A cidade é, em verdade, condomínio de todos. Deixaremos nossos espaços públicos abandonados e mal cuidados até que a segurança seja retomada? É hora de entender que planejamento urbano é sobre cidades, lugares e pessoas. Se quisermos lugares seguros devemos ter "olhos na rua" e ouvidos atentos àquilo que faz sentido para a população.