Quem imagina deter a criminalidade e sufocar a violência pela repressão desenfreada e o recolhimento de presos a um sistema carcerário pré-medieval, engana-se. A barbárie que nos atormenta recrudesce e realimenta-se no quadro caótico das cadeias e penitenciárias. Vai engrossando o contingente de bandidos que as facções dominadoras das galerias dos presídios arregimentam. O narcotráfico avança irremediavelmente, enquanto as instituições envolvidas com a persecução penal enxugam gelo ou fazem buracos n'água.
Não bastasse o cenário terrível dos imensos casarões superlotados, agora temos presos em carceragem irregular nas delegacias, camburões improvisados e pátios de prédios policiais. Houve até quem tivesse algemado a uma lixeira de rua um flagrado por guarnição de brigadianos. Até viaturas federais foram vistas estacionadas junto à calçada horas a fio, guardando dois ou três presos. É impensável que tal ainda aconteça.
São impressionantes os depoimentos de policiais civis dando conta do justo receio que os preocupa, de serem envolvidos em trágicas ocorrências de arrebatamento, brigas, homicídios ou suicídios. Têm se multiplicado os aprisionamentos ilegais, em tal proporção, que a população tem sido impedida de ingressar nos distritos policiais para registros ou pedidos de providências. Não passará muito tempo até que algo de mais grave aconteça. No fim de semana e nos feriados sempre é pior. Os fatos se multiplicam, os flagrantes acumulam-se e, vencida a etapa da audiência de custódia, vê-se a polícia envolvida, involuntariamente, em crimes de abuso e de tortura, pois não deixa de ser violência indevida a manutenção de duas ou três dezenas de homens amontoados, muitas horas sem comer, sem higiene e muitas vezes em quadro nítido de doença.
Acompanho a posição da Ordem dos Advogados do Brasil, que vistoriou delegacias e anunciou a muito clara hipótese de responsabilização do senhor governador. Acrescento a constatação de que nos plantões policiais e no Judiciário vai chegar a hora de não se tolerar mais o pavor que se instalou. E ninguém mais será preso, então.
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