A informação vinda da Polônia diz que, "tijolo por tijolo e viga por viga, os restauradores se esmeram em limpar barracões do campo de extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau, a fim de preservar esse símbolo do Holocausto para as futuras gerações". O "maior projeto de conservação" não deixa de ser uma boa notícia, só que provoca desconforto. Por quê? Porque essa necessidade de memória se faz cada vez mais premente na medida em que as testemunhas primárias da barbárie nazista vão escasseando por uma ordem natural de finitude humana. E vem a pergunta: o que será de nós quando nenhum dos sobreviventes estiver aqui, se hoje já há releituras levianas de fatos tão comprovados e contundentes?
O antissemitismo surgiu de quem não aceitava o monoteísmo judaico, nos primórdios da chamada civilização. Mas era apenas o triste ponto de partida do que só pioraria. Tornou-se mais virulento quando os judeus não reconheceram Jesus como messias. Foram proibidos de semear a terra e de ter propriedades, restando-lhes atividades financeiras, intelectuais e médicas, vetadas aos cristãos na Idade Média profunda, até porque a ciência e a organização socioeconômica, ora, depois se veria, afrontavam o dogma da purificação racial ariana como vertente por onde o homem deveria marchar. Tais atividades se tornaram mais uma tradição cultural, vocação, honra e... estigma.
O ódio religioso fica definido com mais propriedade pela expressão "antijudaísmo". Pois bem. Passou do perfil religioso para o "racial" (sic), semita, quando Hitler partiu para o extermínio físico do "germe" responsável por comunismo, direitos individuais, democracia e outros ultrajes a suas crenças doentias. Hoje, a visão simplista do sionismo põe o antissemitismo em um terceiro momento do seu travestismo: é o antissemitismo político, que, ironicamente, nega a roupagem anterior, a "racial", uma vez que rejeita absurdamente os judeus como povo, como nação. Vejam só: o ódio e os discursos que mais lhe convêm.
Essas reminiscências são feitas porque o tema deste texto é aquele que o iniciou. O que será de nós se, "tijolo por tijolo e viga por viga, os restauradores" precisam se esmerar para manter o símbolo da barbárie? A humanidade tem a obrigação de preservar a memória e saber suas origens.
Leia outras colunas em
bit.ly/leogerchmann