É de um simplismo abissal a ideia de que o governo federal e os governos dos Estados endividados estão propondo aos Legislativos contenção de gastos e ajustes fiscais porque são maus, não gostam de servidores públicos ou porque estão a serviço da elite econômica. Qual o governante que não preferiria terminar o seu mandato distribuindo benesses e saindo aplaudido pela sua generosidade? Só que essa mágica com o chapéu alheio acabou. O Estado brasileiro está falido, as unidades federativas também, pela mesma razão: vêm gastando mais do que arrecadam. Isso, sim, é um raciocínio simples de entender.
Para acabar com essa irresponsabilidade histórica, agora é preciso impor sacrifícios a todos. Não há mais espaço no setor público, seja em qual for o poder ou a instância da federação, para gestores lenientes com a seriedade fiscal. O mesmo alerta é válido para servidores habituados a encarar o setor público como algo imutável e imune a mudanças externas que impõem revisões constantes nas prioridades sob o ponto de vista dos contribuintes. Obviamente, essas readequações têm um custo, que incide com maior intensidade sobre parcelas como a dos servidores e aposentados, no caso da definição de um teto para os gastos públicos e na inadiável aprovação da reforma da Previdência. Diante da gravidade da crise, porém, com um recuo acelerado nas receitas em âmbito federal e no dos Estados, só é possível garantir minimamente os interesses do conjunto da população enfrentando os gastos.
Compreende-se que os setores mais atingidos protestem, que façam greves, que reivindiquem seus direitos – desde que dentro da lei e da ordem. Atos de vandalismo não podem ser tolerados. Nem se pode aceitar argumentos simplórios e hipócritas para entravar as reformas, principalmente quando partem de corporações que tentam manter seus privilégios acima de tudo.