No Brasil, a miséria da política foi tê-la tornado um caso de polícia. O poder político exercido por canalhas, a "politicalha", tem atuado como um sórdido negócio. Há destacados paladinos da ética com discursos inflados e, mesmo filmados, serial killers agindo no atacado são só "suspeitos até que se prove o contrário". A cultura da impunidade é escárnio que mata, antes, um ideal de sociedade.
A miséria da politicalha foi ter tornado todo representante político algo como um suspeito em potencial. Um suspeito "sei lá do quê" nem se sabe, mas que quer se safar. E face à corrupção sistêmica que nos levou a uma judicialização da política, hoje, já nos sentimos órfãos daquela espécie de mãe cega que achávamos ter – a justiça, até ela parece estar se distanciando dos nossos anseios. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto ao não afastamento do réu Renan Calheiros da presidência do Senado foi mais uma que pretendeu "pacificar o país". Mas, como querer isto se, pela primeira vez de modo bem evidente no momento recente do país, tal decisão sofreu influência da mesma política do acordão que tem nos empurrado para um limbo de desesperança?
Perguntamo-nos atônitos "em que país acreditar?" e, logo com um ar de "vamos mudar de assunto?", parecemos querer fugir deste estado de mal-estar coletivo. Na proporção que sentimos diminuir ou desaparecer em nós o "efeito bombástico" de cada novo caso de corrupção, aumenta o abismo da crise de representatividade política. Cada vez mais, o Estado parece uma coisa que nos alugam por slogans a cada quatro anos e, como inquilino desapegado de pertencimento ao lugar, o senso comum partilha de um certo cansaço faminto por condenar os cleptocratas. E a quantidade de votos nulos nas últimas eleições municipais nos indica que "ninguém" já se estabeleceu como entidade de fuga de nossa impotência ante esta cleptocracia revestida de "democracia".
Mas nada deve parecer impossível de mudar. Contra a politicalha, Bertolt Brecht (1898-1956) diria: "brasileiros, não deixem seu cansaço se transformar em alienação e inação!". Pois bem, se, segundo a pesquisa recente do Datafolha, 63% da população quer que o presidente renuncie, o "fora, Temer" já não é coisa de petista. Fortaleçamos mais as eleições diretas como pauta de convergência mínima do interesse nacional, ao menos, elas nos devolveriam a esperança de um "fora todos" os usurpadores do dinheiro e, por que não dizer, de direitos.