O Rio Grande do Sul é um Estado que gosta de cultuar as tradições. Olha para o passado e se orgulha do quanto já foi grande, importante, culto e desenvolvido. É significativo ter uma boa história para lembrar. Mas as façanhas passadas não levam ao futuro. O que fizemos serviu para nos dar identidade, nos trazer até aqui. Mas ficar reverenciando o que passou não garante mais nada.
Sobre cultura, política e economia, muito já se disse. Fomos o Estado mais politizado da nação, o povo mais culto, com as melhores escolas, os maiores índices de alfabetização, o celeiro do país. Há quantos anos já não somos mais nada disso? Por que ainda insistimos em falar e viver das lembranças de um passado glorioso? Nossos CTGs e festivais de música nativa contam a história de um gaúcho que não existe mais. Gastamos muita energia com o saudosismo e pouca em gerar mais produtividade.
E por que estou lembrando deste assunto tão batido? O que me leva a esta reflexão é a queda do Inter para a segunda divisão. E não quero falar em futebol, nem gozar da cara de ninguém! Até porque isso também aconteceu, da mesma forma, com o Grêmio. Na longa agonia do Inter e, no passado, a do Grêmio, dirigentes disseram coisas como: "time grande não cai", "o Inter é campeão do mundo", "somos grandes e não vamos cair!". Se pesquisar, vamos encontrar frases semelhantes para Inter e Grêmio. A questão é que o RS está todo na segunda divisão. Ou quase todo, para não ser injusto. Temos excelência em algumas áreas. Mas não são muitas. Nossas organizações estão velhas. Faltam lideranças políticas e empresariais ousadas. Nossas empresas perdem terreno dia a dia ou são vendidas sucessivamente. E continuamos olhando pelo retrovisor! Buscando o passado para chegar ao futuro, achando que nada vai nos abater e que vamos fazer a diferença apenas cultuando o que fomos, com prepotência e arrogância.
A grave crise que o Estado vive mostra que é preciso humildade para admitir que o RS já ficou para trás e que precisamos de novos olhares. Começar do zero, como uma folha em branco e não só querendo alterar o que está aí. Setores inteiros estão sendo engolidos rapidamente, porque a cada minuto chega alguém pensando totalmente diferente, orientados para os problemas que as pessoas precisam/querem ver resolvidos. E atentos a novas oportunidades. Ainda olhamos o outro, o diferente, o de fora, o que não pensa como nós, com muita desconfiança. E isso nos impede de aprender coisas novas. Os governos que assumem as prefeituras têm nas mãos a possibilidade de repensar os municípios que vão administrar e apostar em relações público-privadas saudáveis. Relações íntegras, que sejam boas para todos os segmentos sociais. Empresas, entidades, serviços precisam ser completamente redesenhados para enfrentarem os novos desafios que chegaram. Trabalhar duro, desaprender, para entrar 2017 de cara nova e cabeça aberta, porque vai ser um ano muito exigente para todos nós!