Ainda que seja simbólico, sem efeito decisivo no equilíbrio das contas, o pagamento de salários acima do teto constitucional a servidores dos três poderes desafia o bom senso e ofende a maioria dos funcionários que vêm enfrentando o parcelamento em seus vencimentos. É inadmissível que os responsáveis pela administração pública não consigam conter abusos obtidos por meio de subterfúgios na maioria das vezes legais, mas incompatíveis com a situação financeira do Estado.
Sem condições de arcar com o pagamento integral para o funcionalismo há nove meses, o Tesouro gaúcho só está concluindo hoje a folha salarial do mês de outubro. Enquanto isso, no mesmo mês, continuou bancando um valor totalmente incompatível com a situação do caixa para categorias privilegiadas que, nos três poderes, se valem de todo tipo de artifício para garantir ganhos exorbitantes. Entre as deformações, estão o pagamento de "vantagens eventuais" para justificar salários acima do teto, que já é elevado demais, e de licenças-prêmio.
Poucos Estados registram a formação de uma elite burocrática tão aferrada a benesses como o Rio Grande do Sul. Essa tradição ajuda a explicar a força de grupos que, a pretexto de defenderem interesses coletivos, estão muitas vezes pensando primeiro nos seus próprios ganhos. Ainda assim, a falência do sistema, que não tem mais como se financiar, reforça a necessidade de se romper com esse círculo perverso, acabando com privilégios.
O poder público gaúcho não existe para bancar castas. Esse é o momento de redirecionar sua atenção aos contribuintes que o financiam, para que possa melhorar os serviços e aprimorar a infraestrutura, favorecendo o crescimento.