Fazia muito tempo que instituições previstas para cuidar e bem educar crianças e adolescentes não se prestavam a espetáculos tão grotescos como aos que temos assistido no Brasil nos últimos meses.
Frente à ocupação de mais de 1,3 mil escolas estaduais e federais, faculdades e universidades, em cerca de dois terços dos Estados brasileiros, por estudantes secundaristas e do Ensino Superior contrários aos anunciados efeitos nocivos da PEC 241 (55), contrários à medida provisória que permite o sucateamento da educação básica e às propostas de lei intituladas Escola sem Partido, o Ministério da Educação falta às suas obrigações constitucionais.
Mais que isso, o MEC ameaça, busca que escolas e instituições de Ensino Superior entreguem os nomes de quem está ocupando para tomar "medidas cabíveis". Com a proximidade do Exame Nacional do Ensino Médio, ao invés de negociar com os movimentos, dá ultimato: saiam ou não haverá o Enem.
O Ministério da Educação assume, com a postura do ministro de um governo antidemocrático, ares do governo civil-militar pós-1964. No caso do Enem, jogam estudantes contra estudantes, povo contra povo. Alega o MEC questões técnicas e de custo. Absoluta inverdade.
Com maiores problemas e prazo mais exíguo, a Justiça Eleitoral determinou a mudança dos locais de votação em escolas ocupadas, no segundo turno, para mais de 700 mil eleitores dos Estados de Espírito Santo, Goiás, Pernambuco e Paraná. Já o órgão que deveria ser o gestor nacional da política pública de educação deixou 191 mil estudantes sem Enem por motivo ideológico. Por repulsa à democracia, apostando no caos social, esquivando-se de debates com os estudantes.
Por outro lado, no Distrito Federal, um juiz determina tortura contra estudantes ocupantes, posição rapidamente seguida em outros Estados, com corte de água, luz, comida e entrada de familiares em escolas ocupadas. Um promotor de Justiça do Paraná diz que estudantes que ocupam escolas são piores que adolescentes que estão aliciados pelo tráfico de drogas e que cometem atos infracionais.
Adultos impregnados de autoritarismo, deseducando. Jovens praticando atos de desobediência civil, de coragem e de esperança.