A segurança pública do RS é como um paciente na UTI, para o qual, diante da gravidade do quadro, todo remédio deve ser ministrado com cautela. É preocupante quando a autoridade máxima no tema, o secretário de Segurança, diz que a saída é usar contêineres e um navio para pôr os detentos que hoje estão em viaturas e delegacias. Ele chama de "medida emergencial", mas não diz qual é o plano a médio e longo prazos.
Quanto mais aprisionamentos sem estrutura física e pessoal, menor é a chance de ressocialização. Assim, criaram-se as facções criminosas, que já têm mais seguidores armados do que o efetivo da BM, Polícia Civil e Susepe juntos. São essas organizações que, em disputa por territórios e galerias nas cadeias, executam rivais, vítimas de assaltos e roubos, além de tirotear em vários locais das cidades gaúchas.
De janeiro a junho, a Secretaria de Segurança Pública/RS contabilizou 290 homicídios em Porto Alegre, uma taxa de 19,7 casos por 100 mil habitantes. A ONU considera epidêmica a taxa a partir de 10 mortos/100 mil habitantes. Nos países onde essa situação está controlada, investe-se em políticas de prevenção à violência, articuladas com medidas de repressão ao crime e de ressocialização.
Infelizmente, no RS e Brasil, adotou-se uma política inconsequente de guerra às drogas, na qual prende-se o "aviãozinho" do tráfico mas não os que financiam esse comércio. E, nas poucas vezes que os "graúdos" são pegos, viram "prefeitos" de galerias, comandando o crime de dentro da prisão.
Para mudar a situação, exige-se investimento em políticas de trabalho, renda, educação, cultura, lazer e esporte, para atrair a juventude que atualmente é recrutada para o tráfico; investir no policiamento ostensivo nas comunidades; valorizar e integrar as polícias, para investigar as organizações criminosas; adotar projetos de ressocialização, dando autonomia e estrutura à Susepe; conveniar com a sociedade civil, via método Apac, que diminui drasticamente a reincidência etc. Só então, o povo gaúcho poderá viver sem o medo e a dor pela perda de entes. Do contrário, ficará a ver navios.