Talvez seja a minha cara de bebum ou obra do acaso. Provavelmente nada disso, apenas consequência da rotina de voltar do trabalho para casa, na zona sul da Capital, depois das 22h. Na noite de quarta-feira, soprei o bafômetro pela quarta vez em um ano. Entre amigos e conhecidos, não sei de ninguém com a sobriedade tão testada ultimamente. Em uma delas, minha experiência permitiu até que eu ajudasse a servidora que estava com o aparelho a posicionar, de forma correta, o canudo descartável, aberto na frente do "cliente". Enfim, virei um expert.
Não há dia certo: esta foi quarta-feira, mas já fui parado na segunda, na quinta e na sexta. Em todas elas, fui tratado com muita educação e civilidade. Após verificações da minha carteira de motorista e do documento do automóvel, me foi questionado se eu queria me submeter ao exame e se eu havia consumido bebida alcoólica. Um processo que não leva mais de 10 minutos. Serviço público de excelência.
Mais do que tirar infratores do trânsito, a Balada Segura, mantida como política de Estado apesar da troca de governantes, começa a mudar a cultura de motoristas de Porto Alegre. Na semana passada, eu e sete colegas de ZH combinamos um chope com um professor de Jornalismo em um bar da Cidade Baixa. Na hora de deixar a Redação, nos demos conta de que não havia carona disponível, já que todos os carros do grupo ficariam no estacionamento da empresa para que seus donos pudessem beber sem preocupação. Fomos para o bar e voltamos para casa de táxi e de Uber.
Os perfis nas redes sociais que delatam os locais de blitze ainda são muito compartilhados, mas acredito que o jogo esteja virando. Relatos de amigos que perderam a carteira por um ano por "ter tomado apenas um latão" ou por ter esquecido de olhar o Twitter antes de pegar o carro se multiplicam. Amedrontam quem passou a vida inteira dando balão na lei e na consciência e nos dão tempo para formar uma geração que entenda que não é a multa de R$ 2.934,70 ou a cassação da carteira que importam. Mas, sim, não colocar a sua vida e a dos outros em perigo. Estou fazendo o tema de casa com o João Pedro, 11 anos, e com o Inácio, sete. Mesmo com essa cara de bebum.