Por volta das cinco da madrugada, um carro colide contra um muro em uma perseguição frustrada a um bandido que havia quebrado os vidros de um automóvel e furtado uma mochila, na Rua Luís Afonso, na Cidade Baixa. Algumas pessoas corriam atrás do ladrão aos gritos de "Pega ele, pega ele". Enquanto seguia em fuga, o grupo aumentou e um táxi entrou na contramão da Rua José do Patrocínio para reforçar a multidão que se formava em busca do criminoso.
Sem uma estratégia de evasão planejada, o bandido correu em direção ao movimento dos bares do reduto boêmio da Capital. A cada 10 passos, mais pessoas corriam atrás dele. E eu também, na condição de jornalista, claro. Tudo indicava que o ladrão seria linchado ali, sob o luar e com os cacos de vidros embaixo dos tênis surrados. Eis que, para salvar a vida do criminoso, a Brigada Militar surge, a cerca de 350 metros do incidente, na Rua República. A luz do giroflex reverberando nas paredes e acalentando o rosto do malfeitor, que clamava com o olhar a proteção dos nossos brigadianos. Ao ser interceptado, na abordagem, uma constatação: reincidente. O criminoso havia sido fichado na noite anterior.
O bandido foi enquadrado por furto, o famigerado artigo 155 do Código Penal. Outra viatura da Brigada Militar chegou. Em uma delas, entrou o bandido, com tranquilidade e experiência, e na outra as pessoas que foram furtadas, aflitas e sem experiência. O homem que cometeu o delito e os cidadãos que fizeram o registro ficaram o mesmo período de tempo na delegacia, cerca de uma hora e 30 minutos. A ocorrência sem vítima não existe, é necessário compor todas as partes de cada história. Após o registro, ambos foram liberados. Vítimas e bandido saíram pela mesma porta.
No Presídio Central, com capacidade para 1.905 presos, temos exatos 4.799 detentos. O epicentro da superlotação ocorre em quatro dos nove pavilhões. É onde ficam localizadas as facções e os autores de crimes mais graves. Com isso, recentemente, camburões e cárcere policial viraram uma nova modalidade de cadeia. Para ser preso em Porto Alegre, é necessário ser especialista. Afinal, uma vaga na penitenciária não é para qualquer um.