Desde janeiro, 11 homens foram decapitados na Região Metropolitana – média de uma atrocidade por mês, sendo alguns torturados e esquartejados em rituais macabros. As últimas quatro vítimas foram encontradas dentro de um veículo, no bairro Salomé, em Alvorada. Como os corpos e as cabeças não apresentavam marcas de tiro, é possível que tenham sido golpeadas ainda com vida.
As degolas são apenas a parte periférica, e mais cruel, da violência no Rio Grande. O ano 2016 é, de longe, o mais brutal da história. Rompeu-se todos os limites. Executa-se em hospitais, aeroporto, rodoviária, estacionamento de supermercado, a qualquer hora do dia. Mata-se mãe que espera filho em escola, atira-se contra grávidas. Como consequência da falta de vagas nas prisões, do corte do orçamento na segurança, da ausência de policiais nas ruas, da inexistência de política de segurança vivemos a barbárie. O terrível é que se trata de uma tragédia anunciada. A fatura chegou.
A incompetência na área prisional, para ficar no exemplo mais agudo, é pós-moderna: não tem ideologia. A construção de uma simples penitenciária arrasta-se por oito anos e três governos. Tucanos, petistas e peemedebistas foram incapazes de fazer funcionar a pleno um presídio com capacidade para 2,8 mil presos, em Canoas. Enquanto isso, criminosos são mantidos até dentro de viaturas porque as carceragens de DPs, como o Presídio Central, estão superlotadas.
Sem lugar nas cadeias, a Justiça os envia para casa. Há cerca de cinco mil condenados, que deveriam estar no semiaberto, cumprindo prisão domiciliar. Quantos estariam praticando crimes? Não se sabe porque a maioria não é monitorada. Sequer há PMs para patrulhar todos os bairros. O fato é que, apenas este ano, houve 30 latrocínios em Porto Alegre (aumento de 76% ante 2015).
O governador José Ivo Sartori prometeu pouco para segurança durante a campanha. E está sendo coerente. Sua gestão atrasa salários de investigadores, delegados e PMs, abandonou os Territórios da Paz e reduziu em 29% os gastos com policiamento em 2015 na comparação com o ano anterior. As informações constam na 10ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Não se tem notícias de parcerias com municípios. Depois de um ano e sete meses de resultados pífios, Sartori trocou o titular da Segurança Pública. No lugar do delegado da Polícia Federal Wantuir Jacini, um técnico, colocou o político e ex-prefeito de Santa Maria Cezar Schirmer, um amigo. Há mais de dois meses no cargo, Schirmer, o companheiro de longa data, não apresentou um plano de ação para sociedade. A principal novidade é a possibilidade de confinar presos provisórios em contêineres transformados em centros de triagem. É pouco.
Sartori e Schirmer têm dois longos anos pela frente. É preciso reagir para que 2017 não seja ainda pior.