Como uma nau que se distancia do rumo, por muito tempo ficamos à deriva. De exemplo positivo em qualidade de vida e segurança, para exemplo negativo de falência da máquina, nosso Estado provocou a crise que o está consumindo. Sempre soubemos o que precisava ser feito. Quando se gasta mais do que se arrecada, cortes são necessários para se adaptar à realidade. Não existe mágica em gestão. Esses cortes, no entanto, são difíceis de serem executados. Afinal, é mais fácil vender doces ilusões do que a dura realidade.
Um plano como o apresentado não poderia agradar a todos. O contrário é certamente mais fácil em um momento assim. Muitos grupos diferentes serão diretamente atingidos pelas mudanças no curto prazo e os resultados beneficiarão a sociedade como um todo no longo. Argumentos serão levantados e todos desejarão mostrar como deveriam ser excluídos desse rol de mudanças. No fim, a realidade se impõe: o dinheiro acabou.
Além do déficit absurdo, a dívida em si do Rio Grande do Sul é basicamente impagável. Como não se questionar se o Estado deveria financiar empresas e fundações, com as pessoas sofrendo com um nível até há pouco inimaginável de violência e desassistidas de saúde e educação? Não podemos deixar de levar em conta que aquelas são desvios nas funções originais do Estado e, ainda, que os serviços não deixarão necessariamente de serem ofertados para a população se passarem para a iniciativa privada, quiçá melhorem.
A conta segue não fechando, mas finalmente começamos a atacar o problema. Há espaço para ir mais longe. Seguimos, efetivamente, com três bancos estatais e empresas de infraestrutura que poderiam ser facilmente incluídas nas privatizações. Em um debate mais amplo, devemos nos questionar a razão por que a sociedade gaúcha paga com a vida pela situação calamitosa do Estado, enquanto bilhões de reais arrecadados pela União aqui são levados para outros Estados todos os anos. A iniciativa do governo do Estado é politicamente corajosa. Economicamente, contudo, apenas os primeiros passos.