Demonstrou eficiência a Polícia Federal ao identificar e prender fraudadores do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no início deste mês. A reportagem apresentada na noite de domingo pelo programa Fantástico impressiona tanto pela ousadia e organização da quadrilha quanto pela desonestidade dos estudantes que tentam se beneficiar do esquema delituoso, especialmente na busca de vagas em cursos disputados, como o de Medicina.
A PF fez duas operações para combater os fraudadores em oito Estados, prendendo 14 pessoas. Na operação Jogo Limpo, foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão. Na operação Embuste, os policiais desmontaram uma organização criminosa que transmitia respostas da prova para candidatos de três Estados. Merece aplausos a polícia, mas ainda falta o principal: esclarecer como os quadrilheiros tiveram acesso ao gabarito de uma das provas com antecedência. É uma explicação que o Ministério da Educação ainda está devendo.
Enquanto esse fato não for esclarecido, com a devida responsabilização de quem deixou vazar a informação sigilosa, a prova continuará sob suspeita. O Enem de 2016 já contabiliza três anormalidades: a transferência para outra data das provas marcadas para escolas ocupadas, a coincidência do tema da redação com uma simulação do ano passado e, agora, esse gabarito antecipado por meio de fraude.
Quando um processo educacional tão importante como o Enem vira caso de polícia, o mínimo que se pode esperar de parte das autoridades é um choque de transparência que esclareça todas as dúvidas.