Quando somos atendidos por um médico, sabemos quem ele é (hoje em dia, com o atendimento de massa, muitas vezes não sabemos nem o nome). Mas o que ele é? Ou seja, na pessoa daquele médico projetamos alguns papéis, frequentemente irreais. Vulneráveis, enfraquecidos pelos nossos sintomas, sofridos pelas nossas dores, ameaçados pelos nossos temores, quando nos sentimos doentes, atribuímos a ele o poder de resolver tudo isto. É o nosso desejo e de nossos familiares.
É natural que seja assim. Gostaríamos que a cura acontecesse por mágica, milagre ou qualquer coisa que atendesse nossa vontade. O médico, com seu saber, deve assumir a incumbência para a qual foi formado, com diligência, perícia e prudência. Deve ter competência técnica. Mas não é mágico nem deus para fazer milagres. Compreendendo e aceitando seus poderes e limites, poderá agir melhor para ajudar aqueles que atende, por mais que a realidade contrarie essas expectativas irreais.
Este é o campo da relação médico-paciente por excelência, tão importante quanto o da competência tecnológica. Saber lidar com o paciente em seu momento de esperança-desesperança, biológica e psicologicamente, em seu contexto social, este é o médico em seu máximo potencial humano. Não há exagero algum em afirmar que esta é uma atividade da maior relevância social. Uma sociedade que preza a si mesma deve se empenhar fortemente para que a formação completa dos médicos seja sempre primorosa, ética e tecnicamente; e para que aqueles assim formados, possam exercer suas atividades com dignidade e devidamente valorizados.
Em nosso país, os médicos muitas vezes trabalham em precárias condições, em lugares deficientes e com falta de acesso aos progressos da medicina. Fazem verdadeiros heroísmos. Mas a sociedade deve compreender que seria muito melhor atendida se precisasse menos de heróis e mais de seres humanos com boas condições de trabalho. No momento em que se celebra o Dia do Médico, é bom lembrar disso.