Na posse como presidente do STF, a ministra Cármen Lúcia citou Caetano Veloso para afirmar que "alguma coisa está fora da ordem". A referida citação só não pode ser considerada absolutamente perfeita porque "muitas coisas" estão fora da ordem no Brasil. Podemos começar com as longevas desigualdade e injustiça sociais, passando pelo projeto do PT/PMDB de perpetuação no poder até chegarmos ao vigente golpe de Estado. Até aqui são poucas as novidades, pois a história brasileira sempre serviu de palco para essas vicissitudes políticas e sociais. No entanto, surge uma nova e perigosa desordem que tem origem na antiga disputa pela narrativa dos acontecimentos que norteia a trajetória da humanidade.
A disputa pela narrativa, quando promovida no âmbito dos segmentos da sociedade e das instituições com preponderante natureza política, sempre foi tratada como fruto da disputa hegemônica. No entanto, quando a disputa pela narrativa passa a ser encampada pelos Poderes e instituições que deveriam ostentar imparcialidade em relação às conspirações e interesses políticos, passamos a entrar em terreno pantanoso.
A salutar Operação Lava-Jato vem apresentado evidências de que os representantes do Poder Judiciário e do Ministério Público atuam como narradores a fim de conquistar o convencimento e apoio da opinião pública. A divulgação das conversas entre Dilma e Lula e a "apresentação power point" do MPU para apontar Lula como o centro gravitacional da corrupção na Petrobras transformam as autoridades responsáveis por tais atos em players de um jogo que não existe, pois processo não é jogo e, por consequência, não é espetáculo.
Em relação à divulgação das conversas entre Dilma e Lula, o ministro Teori Zavascki, acertadamente, decidiu pela anulação das respectivas gravações. Correta também é a intenção da ministra Cármen Lúcia de promover mudanças nos concursos para a magistratura com o objetivo de dar maior ênfase à ética na avaliação e seleção dos futuros juízes. A presidente do STF sabe que muitas coisas estão fora da ordem, mas ao invés de alterar a letra da música de Caetano, presumo que ela esteja optando por mudanças no país.