Dia 4 de outubro de 2016. Ibope apresenta dados muito ruins do "governo Temer": míseros 14% de positivo, 55% de desaprovação pessoal do "presidente". A péssima avaliação sobrevive dois dias depois de as urnas terem dado um duro recado ao PT, principal adversário do governo, reduzindo seu espaço em Câmaras e Prefeituras. Ou seja, o povo brasileiro tem críticas ao PT, mas as têm numa proporção ainda maior a quem usurpou-lhe o poder. Temer é ilegítimo. O povo sabe disso.
Dia 5 de outubro de 2016. Os maiores jornais do país são brindados com uma enxurrada de dinheiro em páginas inteiras de publicidade do governo. Mídia paga. Custo alto. Verba pública.
Mas além de cara, a propaganda ofende o princípio básico da impessoalidade administrativa, pois qualquer ato governamental que vise a interesses pessoais é criminoso. E, naquela peça publicitária, são nítidas as intenções de melhorar a imagem do governo – e, do próprio Temer, a tentativa de justificar cortes de serviços públicos essenciais e, ainda, de disseminar o ódio político. Ou alguém, intelectualmente honesto, acredita que ao dizer "vamos tirar o Brasil do vermelho", a propaganda de Temer referia-se exclusivamente às contas públicas e não aos partidos que usam o vermelho como identidade visual?
A mídia de Temer fere o princípio da moralidade. O evidente duplo sentido em uma peça oficial é francamente imoral quando coloca o Estado brasileiro a serviço de uma ideologia política, constituindo uma espécie de declaração de guerra eleitoral aos adversários. E não haverá surpresa se a essa violência institucional, seguirem-se atos dos que por ela se sentem autorizados a "caçar os vermelhos", "acabar com o comunismo" ou qualquer ação fascista congênere.
Por fim, é quebrado o princípio da publicidade pública quando se constata que não há, na página inteira de propaganda de Temer, qualquer menção às suas próprias ações, apenas uma subjetiva promessa de que estaria "tomando todas as medidas possíveis". Mas o que é isso, então? Propaganda partidária paga com dinheiro público. Goebbles, publicitário de Hitler, não faria melhor.