A bonita professora rasgou o espaço da sala em passos decididos. Largou seus materiais em cima da mesa. Começou a fazer a chamada. Um que demorou segundo a mais pra dizer presente foi questionado se queria ficar com falta, pois estava de tititi e não atentava ao seu chamado.
A professora levantou-se. Disse que seriam os primeiros a saber. Ela contaria pra todos, a fim de evitar diz-que-me-diz. Foi seca e direta. Um nódulo em avançada evolução tomou seu seio direito. Aquele bonito seio que, em par com o esquerdo, deixava loucos os homens que o espiavam quando ela estava decotada. Os homens olhavam com indisfarçável querer para eles. Poucos, entretanto, tiveram o oportuno de os verem desnudos, tocá-los, acariciá-los, mordiscá-los com gentileza, arrancando suspiros incontidos da bonita professora que, nessas horas, em nada lembrava a sisuda que ensinava matemática.
As sessões de quimioterapia, ela avisou, não tardariam a começar. Havia a iminência de perda dos cabelos, conforme antecipara o oncologista. Ela não queria que eles caíssem aos chumaços, no banho. Por isso, decidira que rasparia os cabelos caramelizados e em cachos, que embriagavam os alunos nas segundas de manhã, devido à fragrância de xampu. Aqueles cabelos que tanto ceifavam o seu parco rendimento de professora estadual, pois tão assídua era no salão para intervenções de toda ordem. Sempre mudando o visual, na sua inconstância de mulher.
Mudou de assunto e marcou prova pra próxima aula. E se continuassem reclamando - ninguém falara nada-, dificultaria ainda mais as equações.
Antes que os alunos, atônitos, tivessem tempo de iniciar os cálculos, contou que, infelizmente, o médico disse que ela teria, invariavelmente, que tirar o seio. O nódulo era realmente grande e só o tratamento químico seria insuficiente. Pois que assim fosse. Tiraria os dois. Depois, colocaria silicone. Ou não colocaria nada. Que não se preocupassem. Ficaria bem. Venceria essa batalha.
Já haviam terminado a atividade? Que lerdeza era aquela? Disse isso e saiu da sala em passos firmes. Não queria que os alunos vissem que um pingo de lágrima lhe escorreu pelo rosto, inundando de coragem a bonita e destemida professora.