Vejo estampado em página de capa da ZH a atual situação nada confortável do Badesul. Para quem labuta há 41 anos nesta instituição, nada poderia ser mais triste que tal notícia. Gostaria de ver em primeira página notícias como estas:
- Badesul apoia microempresas;
- Badesul apoia empresas em regiões menos favorecidas, contribuindo para a diminuição das desigualdades regionais;
- Badesul apoia empresas de base tecnológica;
- Badesul apoia investimentos de cunho social em prefeituras;
- Badesul apoia operações formatadas de desenvolvimento de infraestrutura no Estado.
Enfim, são tantos exemplos que a Agência/Badesul apoiou e liderou durante sua existência que este espaço seria pequeno. Certamente o desenvolvimento deste Estado também passou e passa por este Banco. Nossa função como Agência de Fomento é bem diferente daquelas de Bancos Comerciais. Estes atuam basicamente fugindo do risco, enquanto cabe aos bancos de fomento certa ousadia na concessão do crédito. É nosso papel tentar apoiar empreendimentos que muitas vezes não recebem apoio dos bancos tradicionais, mas que se resultam importantes para nossa economia. Lógico que atuando assim temos mais risco, mas é nossa função, se não quem faria este papel? Confúcio disse há séculos atrás: Só o risco torna o lucro ético! Podemos adaptar este pensamento para: Só o risco torna justificável uma Agência/Banco de Fomento! Lógico que deve ter salvaguardas para que não quebrem estes Bancos, mas isto é pauta para outra discussão.
Por um lado temos esta missão nobre de uma Agência/Banco público de fomento, repito indispensável para o alcance de um desenvolvimento mais harmonioso do Estado, mas por outro lado temos o seu uso pelos governos para fins as vezes não compatíveis com a atividade bancária. Explico: esta Agência de Fomento, que nada mais é que o prolongamento do antigo Badesul fundado em 1975, iniciou suas atividades em 2001 com somente três diretores: presidente, diretor Administrativo/Financeiro e diretor Operacional. Para um banco pequeno, hoje com cerca de 180 funcionários, nada mais seria necessário que esta estrutura. Mas, com o decorrer dos tempos, cada partido que governava este Estado, para atender a suas demandas políticas/partidárias ia criando diretorias, quase sempre com a justificativa de manter uma "base aliada". Assim é que logo depois da primeira administração já foi criada uma nova diretoria e depois outra e outra, chegando as atuais seis diretorias, resultando numa estrutura organizacional diretiva pesada para o tamanho do Badesul. Importante realçar que o atual governo herdou tal situação.
Se por um lado o Banco carrega este peso organizacional, por outro os indicados para tais cargos, obviamente com exceções, e estas exceções coincidiram com os bons tempos deste Banco, não eram afeitos à atividade bancária que, apesar de seus comprometimentos, boas intenções e competências, trata-se de setor altamente especializado que necessita anos de experiência para atingir uma plenitude de conhecimento e, por conseguinte, gerirem um banco. Soma-se a este fato um vínculo estreito demais de um banco constituído desta maneira com as demandas do governo, geralmente importantes, mas que resultam em risco demasiado.
Bem, mas como o Badesul atingiu este ponto, segundo ZH publicou em várias de suas edições? Da nossa missão de agir diferentemente da banca privada e entender que certo risco é necessário para atingir nossa missão, qual seja a de contribuir para o alcance de um desenvolvimento mais harmonioso do Estado? Dos seus funcionários, altamente técnicos que deixando suas casas e famílias, em condições muitas vezes desfavoráveis, se embrenham pelos confins deste Estado para levar o desenvolvimento? Lógico que não! Penso que a causa principal está no trato de certa forma descompromissado que os governos fazem com suas entidades públicas, mormente uma atividade tão específica como a bancária! Dou um exemplo. Estava eu fazendo mestrado na Universidade de Londres quando conheci um senhor nesta Universidade, presidente de um banco americano, que quando soube que eu era bancário e estava estudando lá disse: Então quando retornares vai ser presidente deste teu banco. Esta é a lógica dele, mas não é a logica de cá! Obviamente, não fui presidente! Exemplos como estes existem às pencas na nossa instituição, onde a priorização para cargos diretivos, via de regra, se dava em favor das demandas políticas. Isto é tão atual que já existem medidas legais sendo criadas em nível federal para amenizar tais indicações.
Não abro mão de batalhar pela perenidade do Badesul. Um Estado não pode abrir mão de tal instrumento, certamente com sua ausência haveria um vácuo no nosso desenvolvimento. Minha contribuição para manter acesa a chama do Badesul e continuarmos com a nossa missão imprescindível de levar o desenvolvimento para o RS é o Estado entender que um banco, antes de tudo, deve ser tratado de forma técnica, onde a sua viabilidade e rentabilidade sejam os únicos objetivos a serem perseguidos, logicamente buscando alcançar a sua missão!