Se já era difícil para os prefeitos eleitos dia 2 de outubro, a situação para a maioria dos candidatos confirmados ontem como futuros administradores de mais de meia centena de municípios nos quais a decisão ficou para o segundo turno será ainda mais complicada. No calor dos debates, com um acirramento da disputa que, em muitos casos, ultrapassou todos os limites do bom senso, muitos postulantes às prefeituras acabaram se comprometendo com o que, a partir de 1º de janeiro, dificilmente terão condições de cumprir, por absoluta falta de recursos financeiros. O primeiro ato de muitos prefeitos, portanto, deve ser a adequação dos compromissos à realidade, para não terem que começar a governar ainda sob mais descrença na política que a demonstrada pelo elevado número de votos brancos, nulos e abstenções.
No primeiro turno, já houve candidato se comprometendo com congelamento da tarifa de ônibus, que agora não tem como ser cumprido sem uma improvável ajuda federal. No segundo, não faltaram promessas de melhorias justas, pelas quais os eleitores aguardam com expectativa, mas de difícil confirmação na prática.
Uma das razões é que, entre a realização do primeiro e segundo turno das eleições, a Câmara dos Deputados aprovou em duas votações a PEC 241, que agora depende só do Senado para limitar a correção dos gastos orçamentários do governo federal à inflação registrada no ano anterior. Os defensores de um teto para os dispêndios descartam redução nos investimentos. Ainda assim, mesmo antes do recrudescimento previsto no rigor fiscal, já não há folga no orçamento federal, e áreas essenciais como o Sistema Único de Saúde (SUS) vêm sendo subfinanciadas. Em muitos municípios, o atraso até mesmo nos salários dos servidores em 2017 já é dado como certo. Se há dificuldades à vista até mesmo para manter a folha, fica difícil imaginar melhorias nos serviços.
Independentemente de condições financeiras, os prefeitos eleitos em primeiro turno e os confirmados agora – no Estado, Nelson Marchezan (PSDB) em Porto Alegre, Daniel Guerra (PRB) em Caxias do Sul, Jorge Pozzobom (PSDB) em Santa Maria e Luiz Carlos Busato (PTB) em Canoas – já têm atribuições constitucionais suficientes para se preocupar. Um dos aspectos mais desafiadores são os avanços cobrados no atendimento básico em saúde. Outro, uma inovação na área educacional que passa a ser exigida justamente no início de mandato dos novos gestores: a garantia de matrícula para todas as crianças entre 4 e 6 anos na pré-escola.
Entre outros compromissos, os novos gestores municipais precisam contribuir para o resgate da credibilidade da política entre eleitores que, em boa parte, compareceram diante da urna sob ceticismo. Um bom começo é admitir que as dificuldades são mesmo reais e comprometer-se em enfrentá-las com total transparência.