A eleição para a Presidência da República, em 1989, a primeira direta após a redemocratização, elegeu, democraticamente, Fernando Collor de Mello (PRN), que se intitulava "caçador de marajás". Obteve, no segundo turno, mais de 35 milhões de votos, com um percentual de 53,03% dos votos válidos. Seu oponente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), teve pouco mais de 32 milhões de votos, 46,97%. Collor foi deposto em 29 de setembro de 1992, condenado pelo Senado por crime de responsabilidade fiscal. Foi a primeira, vez na história republicana do Brasil, que um presidente eleito pelo voto direto era afastado por vias democráticas.
Em 2014, a presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita, no segundo turno, com 54.501.118 votos, 51,64% dos votos válidos, enquanto Aécio Neves (PSDB) teve 51.041.155, 48,36% dos votos válidos. Em 31 de agosto de 2016, Dilma sofreu impeachment pelo mesmo motivo de Collor: crime de responsabilidade. E as coincidências não param aí. Tanto a queda de Collor quanto a de Dilma foram precedidas de um enorme clamor popular. Collor foi derrubado, principalmente, pelo movimento Caras Pintadas e Dilma, pela multidão que foi às ruas pedindo o seu afastamento. E, mais, tanto Collor quanto Dilma foram afastados não apenas pelo crime de responsabilidade, mas pelo conjunto das suas administrações. Collor foi eleito prometendo acabar com a inflação, mas nenhuma medida, algumas bem impopulares, como o congelamento da caderneta de poupança, conseguiu estancá-la. Além disso, foi envolvido por muitos escândalos, denúncias de corrupção e caixa 2. Dilma não foi afastada somente por causa das pedaladas fiscais, e sim pelos inúmeros casos de corrupção no seu governo, como o mensalão e o petrolão.
A sociedade não admite mais tanta roubalheira e mentiras. São recursos que fazem muita falta aos serviços básicos de saúde, segurança, educação, habitação, saneamento e obras. Uma outra coincidência entre Collor e Dilma: ambos se caracterizam pela arrogância e pelos baixíssimos índices de aprovação dos seus governos. Se os dois foram eleitos e afastados democraticamente, dentro dos padrões constitucionais, por que, então, agora, afirmar que houve golpe na democracia? Esta vitimização é brincar com a memória e com a história do nosso país. Os brasileiros exerceram, tanto na Era Collor quanto no governo Dilma, o direito da cidadania, referendado pelo Senado Federal. Ninguém está acima da lei. Que esta lição sirva de exemplo para todos.