O Brasil é realmente um paradoxo intrigante. Temos tantas coisas singulares que a fruta da jabuticabeira chegou a virar gíria! Há mais de 500 anos, Maquiavel legou ao mundo suas ideias sobre formas de governo, evoluídas das contribuições de Aristóteles, Políbio e outros pensadores. Pregando a separação dos poderes, o visionário autor italiano, conceituava a monarquia constitucional como um regime no qual o rei exercia apenas o poder Executivo, ao lado dos poderes Legislativo e Judiciário. Menos o Brasil, afinal, aqui é a terra da jabuticaba....
Em nossas terras, o Executivo legisla por meio de medidas provisórias face à inércia ou à falta de vontade política do Legislativo em apreciar questões de sua alçada. Aqui, o Judiciário legisla, face à inércia do Executivo e do Legislativo em sanar omissões na lei que acabem chegando à Justiça.
Já o Legislativo, não satisfeito em desempenhar mal seu importantíssimo papel, avocou para si uma pequena, mas importante, fração do poder Judiciário na Constituição de 1988, justamente sob a alegada necessidade de independência dos Poderes.
Anos mais tarde, o ovo da serpente finalmente chocaria e nos traria a este momento de desgosto em que assistimos (abismados?) à transformação de um evento técnico e histórico em um teatro político e histriônico.
Esperávamos todos que o poder Legislativo nos entregasse um símbolo de mudança cultural que pautaria os próximos passos da nação. Ledo engano!
Collor foi condenado, afastado e punido com a perda de seus direitos, tornando-se inelegível por oito anos.
O impeachment de Dilma seguiu o mesmo rito, a mesma lei, e os "nobres julgadores" dessa feita chegaram ao mesmo veredito. Contudo, como só acontece na terra da jabuticaba, a condenada não recebeu punição. Como pode um gestor público ser considerado culpado de crime e preservar sua elegibilidade?
Muito usada pelos economistas desde que nós inventamos a correção monetária, a expressão "jabuticaba" serve para expressar o que só acontece aqui. Pois, anteontem, inventamos mais uma...