Guardadas as devidas proporções, o show defensivo de Lula foi semelhante ao espetáculo armado pelo Ministério Público para acusá-lo. Cercado por apoiadores e correligionários, o ex-presidente utilizou todo o seu repertório de orador carismático e uma boa dose de emoção, chegando a chorar em três momentos, para dizer que está sendo vítima de uma mentira planejada para acabar com sua vida política. "Provem uma corrupção minha e eu irei a pé para ser preso", afirmou, num recado direto aos procuradores da Operação Lava-Jato que o acusaram de ser o comandante máximo do esquema de desvio de recursos da Petrobras e de ter organizado uma "propinocracia" no governo do país.
Se os procuradores exageraram na apresentação midiática, que realmente deixou a impressão de estar fundamentada mais em suposições do que em provas, Lula também apelou para argumentos que só fazem sentido para ele e para quem o idolatra incondicionalmente. Colocou-se como um herói nacional, um predestinado a mudar o destino do país, um perseguido pelas "elites" e por inimigos imaginários que só identifica por "eles". Apenas disse que fazem parte desse complô persecutório parcela do Ministério Público e da mídia, que seriam os responsáveis pelas mentiras contra ele. "Me dedicaram um apartamento que não tenho, uma chácara que não é minha e me acusam de ser o comandante do maior esquema de corrupção da Petrobras. Quem mentiu está numa enrascada" – avisou.
Está mesmo. O país, felizmente, conta com instituições responsáveis, que haverão de julgar adequadamente a acusação e a defesa, para dizer soberanamente quem está com a razão. Só depois que a denúncia do MP contra Lula e contra os demais acusados tiver sido apreciada pela Justiça em todas as instâncias é que os brasileiros saberão quem está dizendo a verdade.