Procurando construir uma comunidade mais justa, Nelson Mandela destacou repetidas vezes que somente por meio da informação seria possível formar um ambiente democrático. O discurso impactou a África do Sul, servindo como base para uma reconciliação que parecia improvável. Concorde-se ou não com a visão proposta, houve nela uma virtude inegável: a capacidade de superar o plano teórico, produzindo impacto coletivo e estruturando as bases mínimas para uma agenda comum.
De fato, por mais que falar em democracia no atual ambiente brasileiro seja trivial, é menos comum que se reflita com densidade sobre esse conceito – evitando seu uso como palavra vazia ou como coringa retórico. Afinal, por que um modelo democrático é desejável? De que forma uma sociedade pode se tornar mais democrática?
As questões são complexas e formam um cenário aberto. Nessa jornada, porém, um ponto parece essencial: se é no cotidiano que o projeto democrático deve ser lido, a participação de seus atores é uma premissa indispensável; é preciso romper as portas da academia, articulando o discurso teórico com as exigências do mundo real.
Nesse cenário repleto de dilemas, o atual momento é também marcado por um tsunami de desafios. Pluralismo contido, intolerância ideológica, crise econômica e desconfiança institucional são apenas algumas das peças desse quebra-cabeça – colocando qualquer atuação democrática na linha de tiro.
É preciso estabelecer bases mínimas para o diálogo, impedindo que o debate sobre "o que a democracia é" represente uma barreira para que seus possíveis benefícios sejam alcançados. Ganham especial importância iniciativas inclinadas a esse fim, como a "Semana da Democracia", iniciativa do Instituto Atuação, realizada pelo segundo ano em Curitiba.
O percurso é certamente tortuoso. Porém, observando com estranhamento a realidade brasileira, ao menos um primeiro e importante passo parece ter sido dado: a superação da apatia. O crescente engajamento de nossos atores deve ser valorizado e aproveitado, percebendo o momento oportuno para o debate e para o aperfeiçoamento de nosso ecossistema democrático.
O projeto é distante. Mas vale lembrar as palavras de Mandela: "Sempre parece impossível, até que é feito".