O processo de impedimento da presidente da República transcorreu de forma a atestar o amadurecimento institucional do nosso país. Longo e exaustivo, o processo consumiu meses para que não restassem dúvidas da seriedade com que seria conduzido. Particularmente, acredito que a destituição de um governante deveria ser até mais célere e menos traumática, a exemplo do que ocorre no regime parlamentarista, mas isso fica para um outro artigo. Mais uma vez, o Brasil mostra que nem mesmo a Presidência está acima da lei. Estariam os tempos mudando?
As demonstrações nas ruas combinadas com pesquisas recentes indicam que o combate à corrupção se tornou prioridade para a sociedade. Oprimida por impostos pesados e uma burocracia sem fim, a população voltou com força ao processo político e clama por mudanças. Cabe, agora, aos nossos representantes traduzirem esses anseios em políticas públicas que consolidem essa evolução e transformem o Estado brasileiro, privilegiando a força das instituições e reduzindo o tamanho da máquina estatal.
A mudança dos tempos, contudo, não é definitiva e temos que estar vigilantes para que as coisas não mudem para permanecerem iguais. Ao separar a votação da pena, em flagrante contrariedade ao texto constitucional, o Senado mostrou que a Lei pode aparentar imperar, mas, ao cabo, pessoas ainda imperam sobre a Lei. São episódios como esse que não permitem que o Brasil seja incluído no rol de países institucionalmente fortes, membros efetivos da Civilização Ocidental.
A evolução, contudo, é inegável. A conclusão do impeachment retira um componente de incerteza importante dos mercados e permite que se busque um novo equilíbrio. Perspectivas renovadas e a premissa de mais estabilidade abrem espaço para grandes investimentos reprimidos que podem acelerar a recuperação da economia. Os desafios a nossa frente não são poucos. O país flertou com a insolvência e as reformas essenciais, além de muitas, são politicamente sensíveis. Há um cheiro de mudança no ar, mas nada está garantido. Na linha do que dizia Tom Jobim, o Brasil não é mesmo para amadores.