Não há nada mais moderno, no ambiente da administração pública, do que a transparência. Com o advento da era digital, o acompanhamento de dados foi ampliado. As instituições de fiscalização e controle também evoluíram muito. Governos estimularam a criação de ferramentas como ouvidorias, sindicâncias, controles internos e comitês de ética. A imprensa cumpriu papel relevante. Enfim, tudo contribuiu para ampliar a dinâmica da transparência.
Mesmo assim, a população ainda não se sente satisfeita em relação à visibilidade e correção dos atos da gestão pública. As agências reguladoras não têm cumprido o papel para o qual foram criadas – ressalvadas as exceções. Muitas viraram mero depositário de quadros partidários, o que compromete a independência que precisam ter. A política de dados abertos, por sua vez, ainda engatinha no setor público. Alguns portais – supostamente de transparência – são verdadeiros labirintos.
A corrupção segue dando mostras de que encontra relativa facilidade para acontecer. Os escândalos se sucederam nos últimos anos. O esforço, portanto, não foi suficiente. As técnicas de corruptos e corruptores se regeneraram. É preciso evoluir mais, muito mais. A tarefa está em encontrar um novo paradigma de transparência e controle, sem que isso iniba o papel discricionário do gestor público e as prerrogativas do Poder Executivo.
Um bom caminho para tal evolução pode estar na aprovação das 10 medidas contra a corrupção, iniciativa do Ministério Público Federal. Mas, para além de novas normas, a sociedade exige uma postura de transparência como valor moral, ligada à dimensão da honestidade pessoal e da verdade política. Chega de mentira, demagogia, falsa promessa e irresponsabilidade.
A descrença da opinião pública na política é fruto da derrocada de muitas das práticas e posturas havidas até aqui. Fazer essa reconstrução é papel dos líderes de expressão e de quem possa ter influência sobre o processo político. No fundo, portanto, é papel de todos. Uma crise tão grande como a que enfrentamos deve ser compreendida de maneira abrangente e produzir mudanças profundas. O maior desafio que se impõe ao país é o de promover uma nova cultura política, tendo a transparência como principal paradigma.