Desde que assumiu interinamente, o governo Temer tem noticiado a intenção de submeter à apreciação do Legislativo diversas propostas estruturais que o país há muito necessita. Fala-se de reforma tributária, mais uma vez, e também de reforma da Previdência, modernização da Consolidação das Leis Trabalhistas, reforma política e de uma prestação de serviços públicos mais eficiente. Impulsionado pela crise econômica e o elevadíssimo índice de desemprego, pela asfixiante carga tributária nacional e pela excruciante burocracia e, claro, pelas constatações de corrupção reveladas e comprovadas pela Polícia Federal nas operações Lava-Jato e Zelotes.
O escopo é amplo, e a ambição é grande e louvável. Mas nós, o povo, já ouvimos promessas similares e estamos céticos de que consigam nos entregar tudo o que prometem. Desconfiamos que possam ser medidas "para inglês ver".
A Inglaterra aboliu a escravatura antes do Brasil e fazia pressão para que seguíssemos rapidamente seu exemplo, proibindo o comércio negreiro através do oceano Atlântico. Era o tempo do Império, devíamos muito dinheiro para os banqueiros ingleses, Dom Pedro ainda era menor de idade, nossa economia era quase totalmente dependente do uso de escravos, então estávamos em um grande dilema. Precisávamos atender a Inglaterra, mas não tínhamos mão de obra para substituir os escravos, caso os libertássemos.
O governo regente teve uma ideia brilhante: fez de conta que escutou e que concordava com o encerramento da utilização de escravos, conforme exigiam os ingleses e, fazendo aprovar algumas leis que acabavam aos pouquinhos com a escravidão, sem, contudo, nunca as fazer cumprir.
Restam dúvidas sobre ser esta a verdadeira origem da expressão colocada entre aspas no título desta coluna, mas o leitor há de concordar que ela se encaixa muito bem com o jeito do nosso país. A Constituição tem muitas disposições para inglês ver, as promessas políticas feitas em todas as campanhas também são para inglês ver, a prestação de serviços públicos essenciais é para inglês ver.
Agora talvez seja a hora de começarmos a construir um Brasil para brasileiro ver. E se orgulhar.