"Eu sou Ciro, rei do mundo, grande rei, rei legítimo, rei de Babilônia, rei da Suméria e de Acade, rei das quatro extremidades, filho de Cambises, grande rei, rei de Anzã, . . . descendente de Teíspes . . . de uma família [que] sempre [exerceu] a realeza." (Declaração contida no Cilindro de Ciro, no Museu Britânico).
Após o Rei persa Ciro II, o Grande, vencer o Rei Creso, da Lídia, (aproximadamente, em 546 a.C.), as cidades gregas da Jônia (litoral da atual Turquia) passaram ao domínio persa. Em razão disso, Ciro recebe uma visita. Eram embaixadores lá do outro lado do mundo de então, de uma pequena cidade. Ciro estranhou aquela gente, que falava de um "modo brusco, grosseiro, rude". Estranhou mais ainda quando eles disseram ao grande Rei estas palavras:
– "Deveis deixar em paz as cidades dos jônios; senão, respondereis aos que nos enviaram, os espartanos".
Ciro, surpreso com a empáfia daquela gente sem poder – e até insignificante, aos seus olhos – chamou um criado jônio e perguntou-lhe:
– "Quem são esses espartanos"?
Passam os anos. Ciro – o maior de todos os reis, segundo o ateniense Xenofonte – morreu, e também o seu filho, Cambises II, que também reinou. O impostor Gautama exerce o poder por poucos meses e é deposto por um golpe. Assume Dario, que, a exemplo de Ciro, exerce o poder com sabedoria e tolerância (nos termos da época). No entanto, a partir de 499 a. C., as cidades gregas da Jônia, posteriormente apoiadas por Atenas e Erétria, tentaram se libertar do domínio persa, promovendo revoltas.
As sucessivas rebeliões em seus domínios levaram o Rei Dario I à ofensiva contra as cidades-estado gregas revoltosas, pois, além da insatisfação destas contra os tiranos indicados pela Pérsia para governá-las, estava em jogo o controle do comércio marítimo na região. As cidades rebeldes foram, enfim, vencidas, mas Dario não perdoaria jamais Atenas e Erétria pelo apoio militar àquelas, sobretudo depois que soube que Sardes ardia em chamas. Desde então, todos os dias, um servo, quando Dario sentasse à mesa para cear, tinha de dizer aos seus ouvidos: "Meu senhor, lembre-se dos atenienses".
Em 490 a.C. o Rei da Pérsia decidiu enviar à Grécia continental uma expedição punitiva. Erétria foi, então, arrasada. mas os atenienses conseguiram vencer o exército enviado por Dario, na famosa batalha ocorrida na planície de Maratona, perdendo apenas 192 guerreiros, contra cerca de 6400 persas.
Coube a seu filho, Xerxes, dez anos depois, em 480 a.C., cumprir a palavra de seu pai. Comandando o mais poderoso exército que já fora formado, o rei persa determinou que uma ponte fosse criada sobre o mar, ligando a Ásia à Europa. E assim foi feito por seus engenheiros, no Helesponto, para a travessia de suas tropas. Porém, mal tinha sido terminada, uma tempestade a destruiu. Xerxes não só ordenou a decapitação dos que a construíram, como que o mar fosse açoitado e que ouvisse estas palavras:
– "Curso d'água salgado e amargo, seu mestre determina esta punição por ferir a ele, homem que jamais o feriu. Mas Xerxes, o Rei, atravessará estas águas, com ou sem sua permissão".
Xerxes, então, mandou que fossem criadas duas pontes sobre o mar – e assim foi feito. Durante 7 dias e 7 noites, as tropas fizeram a travessia, "sob a força dos chicotes", pois Xerxes havia "construído uma estrada sobre o mar e atravessado com seus navios sobre a terra".
Com a sua imensa frota de 1207 trirremes (cada qual com cerca de 200 homens, dos quais 170 remadores), agora ancorados nas águas da Europa, Xerxes chama o espartano exilado Demarato, que se unira aos persas para se vingar dos seus compatriotas. Em pé, diante de seu gigantesco exército, Xerxes pergunta a Demarato se os gregos ousariam enfrentá-lo. O espartano, então, responde que "os gregos podem não dispor da riqueza dos persas, mas têm de sobra o que os riquíssimos persas não possuem: a força e a coragem que vêm de sua liberdade. Mesmo que os espartanos fossem reduzidos a mil homens, aquele milhar ainda assim enfrentaria o gigantesco exército persa".
Xerxes riu. E perguntou:
– "Como poderiam mil homens, ou dez mil, ou até mesmo cinquenta mil homens enfrentar um exército tão grande como o meu – especialmente quando não estão sob um único comando?"
Demarato, em resposta, explica a verdadeira natureza da força grega:
-"Os gregos são, de fato, livres, mas não inteiramente. Eles têm um mestre, e seu mestre é a Lei. Eles temem a Lei muito mais do que teus súditos a ti, ò poderoso Xerxes."