O churrasco oferecido pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a funcionários da residência oficial que precisará entregar ao sucessor escancarou uma aberração a mais da administração pública brasileira. O parlamentar – que, diante da hesitação de colegas em puni-lo por falhas éticas e morais, teve o mandato suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – conta com mais de 50 funcionários para servi-lo, pagos com dinheiro dos impostos. Essa verdadeira corte de serviçais não se constitui em exceção. Tanto parlamentares quanto integrantes do Executivo dispõem de mordomias impensáveis em democracias mais evoluídas. Entre as benesses, incluem-se milhares de servidores e residências oficiais mantidas com recursos públicos, num evidente exagero que não pode mais ser tolerado.
O caso específico exposto agora a partir da festa com música sertaneja ao vivo na mansão de um bairro nobre de Brasília chama a atenção por ser o ponto culminante de atos perdulários, avalizados por colegas, que vinham desde a campanha do ex-presidente da Câmara. Eleito para o terceiro posto político mais importante do país, o deputado cumpriu a promessa de ressuscitar uma série de mordomias no parlamento, entre as quais o pagamento de passagens de avião para esposas e maridos de legisladores. O ex-presidente da Câmara significa um ônus mensal de nada menos de R$ 541 mil para os contribuintes, incluindo de salários a seguranças, carros e motoristas.
Seria ingenuidade supor que os próprios parlamentares decidam abrir mão de benesses que mantêm o seu cotidiano livre de preocupações financeiras, mesmo quando não estão em atividade. Ainda assim, apenas a pressão permanente dos eleitores e maior rigor na hora do voto podem levar políticos perdulários a encarar a realidade, na qual o esbanjamento de dinheiro dos contribuintes só pode ser visto como escárnio.