Com a renúncia à presidência da Câmara e a iminente cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os parlamentares têm hoje uma ótima oportunidade para se redimir parcialmente com os seus representados, escolhendo um comandante melhor sintonizado com os interesses dos cidadãos. A votação, que começa à tarde e tende a se prolongar até a madrugada de amanhã, está sendo precedida por intensas articulações políticas, envolvendo principalmente a base de apoio ao governo interino. Justifica-se: o eleito não só terá a enorme responsabilidade de comandar a maior casa legislativa até fevereiro do ano que vem como também poderá assumir, na prática, a condição de vice-presidente da República, se o impeachment for confirmado.
Considerando a importância do cargo e a delicadeza do momento político por que passa o país, o governo provisório tentou obter um candidato consensual, com a intenção de manter sua base de apoio coesa, mas até ontem não havia conseguido. Só ao meio-dia de hoje, quando se encerra o registro de candidaturas, é que se saberá quantos pré-candidatos disputarão os votos secretos dos 512 deputados habilitados para a escolha. Se ninguém atingir os 257 votos necessários, haverá segundo turno entre os dois mais bem classificados.
O que se espera, independentemente da visão partidária ou ideológica do escolhido, é que o novo presidente se comprometa com a qualificação do Legislativo e com a defesa do interesse público. O Congresso Nacional, como um todo, perdeu a confiança da população, devido ao envolvimento de muitos parlamentares com a corrupção e também em decorrência de ações corporativas e articulações políticas pouco republicanas. Diante do descalabro que foi a gestão do presidente afastado, os cidadãos têm o direito de pensar – como dizia o slogan de um dos parlamentares de maior votação – que pior do que estava não fica. Mas a vigilância tem que ser mantida.