A prisão, pela Polícia Federal, de uma suposta célula terrorista ligada ao Estado Islâmico que planejava ações durante os Jogos Olímpicos Rio-2016 é um marco histórico no Brasil que tende a se repetir com certa frequência. E, pela primeira vez, foram utilizados dispositivos da Lei de Combate ao Terrorismo – Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016, que pune, inclusive, os atos preparatórios.
A questão principal desse contexto é o recado institucional das autoridades brasileiras para todo e qualquer movimento terrorista que possua intenções semelhantes. Uma operação que demonstra a capacidade operacional e de coleta de dados de inteligência das forças de segurança para detectar e neutralizar ameaças em qualquer parte do território nacional. Pode-se afirmar, ainda, que tais ações têm um papel na redução, em parte, da tensão a que estão submetidas as delegações e os turistas estrangeiros em relação à possibilidade de serem alvos diretos de uma ação, especialmente a partir dos recentes atentados na Bélgica, na Turquia e na França.
Sabe-se, a priori, que terroristas autóctones como os chamados lobos solitários ou mesmo células descentralizadas e autodidatas são difíceis de serem identificados com antecedência suficiente para impedir uma ação, uma vez que não existe um perfil ou biotipo definido e, por este motivo, transitam no ambiente urbano com naturalidade. Podemos perceber alguma intenção por meio de gestos, atitudes e diálogos, desde que essas pessoas ou indivíduo estejam sendo monitorados por câmeras por algum tempo, pelas quais será analisado o conjunto de suas atitudes e não um comportamento pontual. Ou então, como foi feito, por meio do monitoramento das comunicações eletrônicas ou digitais, a exemplo dos países que possuem familiaridade no trato com o terrorismo internacional.
Naturalmente, os desafios a serem enfrentados são imensos. O recrutamento de brasileiros pela ideologia extremista já é uma realidade. Existem uma centena de pessoas consideradas pela inteligência brasileira como altamente radicalizadas e um site em português denominado Ansar al-Khilafah Brazil que fomenta, por meio da propaganda, tal comportamento. Soma-se a essa conjuntura o fato de que não existe 100% de segurança e, embora toda a preparação técnica, ações terroristas podem acontecer. Todavia, tudo leva a crer que as autoridades brasileiras estão atentas a essa ameaça, abandonando o antigo paradigma de que somos um país pacífico e, por não estarmos envolvidos em nenhum tipo de operação bélica ou de inteligência nas zonas conflagradas pelo terrorismo internacional, seríamos uma exceção. Nenhum país na atualidade pode contar com essa racionalização, a menos que queira ser surpreendido.