A democracia deposita o melhor de suas esperanças no debate de ideias, apostando que este conduzirá a sociedade às melhores decisões. Sabemos que nem sempre é assim: o poder das ideias mais sensatas e lúcidas é limitado, tal como a tentativa dos pais de demover os filhos de atitudes e comportamentos equivocados. Não foi por falta de bons debates e de advertências que o Brasil chegou aonde está: já durante a votação da Constituição Federal, Roberto Campos advertiu que estávamos construindo uma carta de desejos que não cabia na realidade brasileira. Quando Fernando Collor de Mello estava em campanha, não foram poucos os que se mostraram preocupados com os embustes do discurso do 'Caçador de Marajás'. E desde os primórdios do Partidos dos Trabalhadores, não faltaram aqueles que denunciaram o atraso e o retrocesso de parte do seu programa.
Lamentavelmente, o rumo de toda a má ideia que não é desarmada a tempo é ser colocada em prática. Os otimistas acreditam que, apesar dos altos custos envolvidos, o processo de tentativa e erro é este mesmo e dele advirão aprendizados e evoluções. Para os pessimistas, no entanto, a implementação de más ideias é um erro que custa décadas ao país, às vezes gerações, sem que dele resulte qualquer herança ou aprendizado. Algumas sociedades aprendem com o erro de outras, algumas com seus próprios erros e outras não aprendem em hipótese alguma, argumentam eles. São sociedades que erram, repetem o erro e seguem irresponsavelmente adiante sem qualquer reflexão, cada vez afundando-se mais.
O Brasil de hoje é um laboratório perfeito para saber quem tem razão, se os otimistas ou os pessimistas. Não resta dúvida que o projeto de Brasil que foi urdido naufragou fragorosamente. Independente do processo de impeachment, logo teremos novas eleições. A questão é saber se aprendemos com os erros e os corrigiremos ou iniciaremos a construção de um novo transatlântico igual ao que está submergindo. Construiremos um navio predestinado a naufragar novamente?