Quase oito meses depois de uma sucessão de manobras, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados conseguiu ontem, finalmente, aprovar o que, em muitos momentos, chegou a se mostrar impossível: o parecer que sugere a cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A decisão, com 11 votos favoráveis e nove contrários, só se tornou possível pelo gesto decisivo de uma até então obscura parlamentar, a deputada Tia Eron (PRB-BA), que vinha sendo pressionada a votar contrariamente, a ponto de não ter comparecido em votação decisiva na semana passada. Celebrizada nas redes sociais pelo voto decisivo, a parlamentar é um exemplo das dificuldades dos parlamentares de maneira geral em coibir desvios éticos de seus pares.
No resultado de ontem, pesou a influência da opinião pública. Pesquisas realizadas pelo Datafolha demonstram que quatro entre cada cinco brasileiros queriam o afastamento do ex-presidente da Câmara, que começou a cair agora por ter mentido aos colegas quando negou a existência de contas em seu nome no Exterior. A decisão ocorre um dia depois de o Ministério Público ter pedido a suspensão, por 10 anos, dos direitos políticos do peemedebista, contra o qual há três denúncias no Supremo Tribunal Federal (STF), todas ligadas à Lava-Jato.
A resistência dos parlamentares em punir um político influente como Eduardo Cunha serve de alerta para os eleitores sobre as consequências de seus votos. O ex-todo-poderoso presidente da Câmara só resistiu até agora porque garantiu uma bancada fiel aos seus desmandos. A decisão de ontem é um sinal importante de que essa situação deformada pode estar com os dias contados.