Em recente manifestação no Supremo Tribunal Federal (STF), durante mais um julgamento de caso envolvendo corrupção, o ministro Luís Roberto Barroso chamou a atenção para um aspecto que está cada vez mais na mente da maioria dos brasileiros ao questionar: "Alguém imaginava que os partidos disputavam diretorias de estatais para fazerem coisa boa?". A resposta, apontada pelo próprio ministro, é a óbvia: "O propósito é este mesmo: desviar recursos". O comentário coincidiu com a fase de expansão dos limites das investigações da Lava-Jato para além da Petrobras, com impacto em um número cada vez maior de Estados. E ocorreu na mesma semana em que o Congresso aprovou limites mais rígidos para as nomeações de diretores e membros de conselhos de estatais. Ambas as medidas atendem a pressões cada vez maiores da sociedade pelo cerco à cultura da propina.
A exigência de critérios técnicos para nomeações em empresas públicas e de nomes, preferencialmente, do próprio quadro da empresa pode não ser suficiente como blindagem contra maus servidores. Muitos dos principais envolvidos em irregularidades investigadas pela Lava-Jato eram funcionários de carreira que acabaram se aliando a corruptores, ou sendo cooptados por corporações privadas, interessados nas oportunidades escancaradas de enriquecimento ilícito. Por isso, é positivo que a nova lei se preocupe também com maior rigor nas licitações, além de dar mais ênfase à governança e à transparência. O descaso com esses e outros aspectos ajuda a explicar tantos descalabros registrados hoje no setor público.
Em consequência da falta de controle e de preocupação com a ética, há cada vez menos políticos e menos partidos imunes a denúncias, o que prenuncia impacto nas próximas eleições e também nas próprias legendas. O mesmo esquema criminoso de desvio de dinheiro público servia para irrigar não apenas as campanhas presidenciais, mas também as de âmbito municipal e estadual, transformando políticos de maneira geral em péssimos exemplos de cidadãos.
O alento, diante da roubalheira, é que a sociedade está cada vez menos disposta a aceitar práticas lesivas aos interesses do país, respaldando assim as investigações. É justamente o que leva o ministro Luís Roberto Barroso a concluir que, assim como ocorre em outras áreas – casos da intolerância ao racismo e à violência contra a mulher –, "estamos vivendo o fim de uma era de aceitação do inaceitável."