Enquanto os bons ventos do Exterior prometiam fazer do Brasil uma potência mundial e o governo escancarava as burras do Tesouro, fomos lenientes com a corrupção. Pouco nos importamos com o "mensalão" e até reelegemos o grande comandante, sinal verde para a continuidade do modelo. Eis que o sonho vira pesadelo. A crise fiscal e econômica, refreada no período eleitoral, explode com extraordinária violência. Governo e estatais em situação calamitosa. Vem à tona a extensa e profunda malha de corrupção que contaminou praticamente todos os órgãos de uma República de mentira. Indignados e com inteira razão, todos querem a punição dos corruptos. O projeto do Ministério Público Federal também segue nessa trilha, ataca a corrupção perpetrada, propugna maior rigor penal e eficiência punitiva. O problema é que a corrupção sistêmica é mera consequência.
Não basta a indignação, as causas precisam ser seriamente atacadas. Pode-se elencar algumas. (1) O Estado mastodôntico que tudo pensa prover e executar, abandona suas funções essenciais e indelegáveis, e é incapaz de exercer seu poder de polícia sobre seus próprios órgãos. (2) As estatais, verdadeira aberração numa economia de mercado, com altíssima ineficiência são vorazes sugadoras de recursos públicos em detrimento da segurança, da educação, da saúde. (3) O presidencialismo, sistema sem saída de emergência, no qual o monarca, (con)sagrado pelas urnas, tudo pode, inclusive determinar a execução, sem planejamento, de seus mais delirantes desejos. (4) O sistema de voto individual – em vez de voto partidário – nas eleições proporcionais, agravado pelas monstruosas coligações partidárias, pelo qual o eleitor é ludibriado e geralmente elege outro candidato, com outras ideias e, muitas vezes, com vida pregressa altamente desabonadora, rejeitado pela esmagadora maioria do eleitorado, mas que dispõe de um bom curral eleitoral; sistema que transforma os partidos-cartórios em frentes fétidas e viscosas.