Pressionado pelas evidências de que se equivocou quando nomeou para o seu ministério políticos suspeitos de corrupção ou de conspiração contra a Operação Lava-Jato, o presidente interino Michel Temer viu-se obrigado a aceitar o afastamento do segundo auxiliar direto em menos de três semanas de governo. O pedido de demissão do ministro da Transparência, Fabiano Silveira, assim como ocorreu com o afastamento do titular do Planejamento, Romero Jucá, não isenta o governo provisório de cumplicidade com práticas políticas que conduziram o país à crise. O desfecho, porém, demonstra que o presidente em exercício está em sintonia com a parcela de brasileiros comprometidos com a moralização da administração pública.
Criticar a Operação Lava-Jato ou eventuais excessos dos investigadores é perfeitamente aceitável. Estamos numa democracia e qualquer pessoa, mesmo sob suspeita, tem o direito de se expressar livremente. O que não se pode aceitar é que um inimigo declarado da operação seja investido de poder para interferir ou influenciar no maior processo de combate à corrupção já desencadeado no país – caso do ministro da Transparência, Fabiano Silveira, flagrado em gravação do delator Sérgio Machado quando aconselhava o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o próprio dirigente da Transpetro a adotarem determinados comportamentos para se livrarem de suspeitas.
A Operação Lava-Jato é importante demais para o país, não pode ser sabotada por políticos e autoridades que temem ser atingidos pelas investigações. As ações comandadas pelo juiz Sergio Moro, com apoio do Ministério Público e da Polícia Federal, contam com a chancela do Supremo Tribunal Federal e o apoio irrestrito da população. Nem por isso, evidentemente, são incriticáveis.
Só não podem ser obstaculizadas. Cabe à sociedade e aos tribunais superiores vigiar para que continue dentro da legalidade, sem transigir com ninguém, mas também sem derivar para um macarthismo pernicioso, com acusações generalizadas a tudo e a todos.