Hoje escrevo de São Francisco, Califórnia. A cidade que, na carona de uma revolução tecnológica iniciada nas primeiras décadas do século 20, tornou-se um território extremamente rico e culturalmente abundante.
Escrevo de um gramado público onde acontecerá, dentro de alguns minutos, uma execução da maravilhosa Grande Fuga de Beethoven. De graça, com os cumprimentos de filantropos locais e do Estado.
Nas janelas pelo caminho, muitas manifestações de apoio ao pré-candidato democrata Bernie Sanders. Em alguns dias na cidade, nenhuma manifestação por Trump detectada.
Ser de esquerda aqui é sinal de maturidade, da crença em uma sociedade mais justa.
O que não é óbvio para o jovem (e rico) democrata americano é o tamanho do muro que está sendo erguido em volta dessa sociedade ideal.
Assim como Copenhague e Oslo, San Francisco está mais para condomínio de luxo do que para modelo.
Ao chegar na caríssima casa alugada por uma semana, deparei com um casal de goianos que fazia a limpeza. Há alguns anos nos EUA, eles são a cara de um velho movimento migratório que trouxe uma multidão de trabalhadores braçais – cada vez menos úteis.
Hoje, com a digitalização da economia, para ter alguma chance de dar certo aqui, é preciso ao menos ser fluente digitalmente e ser altamente especializado em um campo especificamente importante.
Melhor mesmo é ser especialista em alguma das vanguardas tecnológicas, como inteligência artificial, hardware conectado, genética programável.
Sinto que nós, brasileiros, temos a obrigação de liderar uma agenda global pela descentralização da capacidade de inovar. Para isso, não adianta reclamar da centralidade atual. O que nos resta é arregaçar as mangas e produzir conteúdo tecnológico relevante em nosso território, contando com redes globais de colaboração. O dinheiro para isso não vai vir antes de produzirmos. Ou seja, não é somente uma questão de pleitear recursos junto ao governo ou a organizações internacionais.
É uma questão de fazer.
Leia outros textos de Opinião