Contra o ladrão, contra o reacionário, o revolucionário, contra o incendiário, contra, contra Nunca fui do contra mas, na hora de votar... O fato é que não lembro de ter tido a sorte de realmente acreditar em um candidato. Ok, talvez um ou outro vereador, ou deputado estadual enrolados em bandeiras verdes e causas tão nobres quanto inviáveis. Mas lá na urna, no box de papelão, naquelas categorias com direito a foto, nunca tive um candidato pra chamar de meu. Votei sempre no menos bandido, no menos suspeito e na grande maioria das vezes, votei "útil" naquele que tinha chances de derrotar o notório - ou suposto, impostor da vez.
Acredito que muita gente da minha geração possa fazer essa mesma reflexão e arrisco dizer que talvez seja esse o motivo pelo qual vivemos hoje um deserto de novas lideranças. E o pior: sem nenhuma perspectiva no horizonte próximo.
Mas a verdade é que irresponsavelmente já votamos em analfabetos, no cavalo azarão, no candidato sabidamente desqualificado, sempre na esperança de desmoralizar os poderosos bandidos da política e ver o circo pegar fogo.
Pegou.
Se não me trai a memória, votei pela primeira vez aos 18 anos, o que convenhamos, no final dos anos 70, sem um smartphone na mão e em plena alienação da ditadura, equivalia a ter o quê? Uns 15 ou 13 anos. Mesmo assim, votei, confesso, romanticamente na pequena estrela vermelha que surgia entre promessas de justiça, bandeiras e cartazes mostrando um barbudo que mais parecia uma versão tabajara do Che, fotografado de baixo pra cima naquela pose de olhar perdido no futuro.
Mas quando o futuro chegou e Lula finalmente ganhou a presidência, a vida já havia se encarregado de me endurecer e mesmo tendo testemunhado a onda de esperança e otimismo que cobriu o país, por mais que eu quisesse, por mais que eu tentasse até, minha ternura não foi suficiente para acreditar. Aliás, respeito, mas não entendo como, a esta altura do campeonato, tanta gente - e gente inteligente - continua cultuando um governo que desgovernou.
Comprovando Jonh Dalberg Acton:
"O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente".
Mas não estou aqui pra polarizar, é justamente o contrário.
O fato de eu não acreditar nesse governo não me impede de valorizar suas iniciativas para tornar o Brasil mais justo. Assim como é bizarro achar que o PT seja o inventor da corrupção - mesmo que tenha levado a prática ao extremo.
Não deveríamos ser tão binários, não é assim tão simples. Nem tão básico. Não ser lulista não necessariamente faz alguém pró-Aécio, assim como não ser PSDB não filia ao PT. Essa discussão polarizada de "a favor ou contra" de "certo ou errado" só acirra ânimos, alimenta o processo de radicalização e extremismo político e incita a violência.
Sem falar que trava o entendimento de outras possibilidades, ideias e visões de futuro. Temos um país para reconstruir e é preciso forjar novos líderes em quem votar com a mesma esperança do passado.
Por que não discutir o que importa?
Nem direita, nem esquerda, precisamos mesmo é ir em frente.
Flavia Moraes escreve mensalmente neste espaço
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