A votação do impeachment escancarou a enorme fragilidade da Câmara Federal. Diante do espetáculo bufão de domingo, prevaleceu o sentimento de estupefação. Até mesmo os vitoriosos degustaram um sabor amargo. Os sorrisos cínicos do mestre de cerimônia e as dedicatórias dos senhores deputados se transformaram rapidamente em piadas e risos, revelando de forma hipocrática a histórica promiscuidade entre público e privado da política brasileira. Foi o triunfo da pechincha geral. A democracia vendida em clima de final de feira.
E agora, trabalhador? O que virá pela frente? A desfaçatez dos parlamentares do SIM é a mesma de grande parte das elites empresariais. Os que disseram SIM, na sua maioria, são os mesmos que dizem NÃO quando se trata de preservar ou ampliar direitos sociais, vide a terceirização sem limites, aprovada na Câmara e em tramitação no Senado.
De que se alimenta "o pato da Fiesp", símbolo da mobilização empresarial em torno do golpe? Como prato de entrada quer o ajuste fiscal e o fim da obrigatoriedade de gasto fixo para educação e saúde. "O pato da Fiesp" é obeso e glutão, exige em seu cardápio a fixação da idade mínima para aposentadoria, o aniquilamento da valorização do salário mínimo e a prevalência do negociado sobre o legislado, isto é, o trabalhador negociando diretamente com patrão, sem nenhuma mediação dos sindicatos. Para os empresários que financiam o "pato da Fiesp", a CLT é um óbice para diminuir o intervalo de almoço, parcelar férias, não pagar hora extra e outros direitos que conquistamos em mais de 70 anos de lutas. Por isso, eles querem sepultá-la neste período de fragilidade econômica e democrática.
O momento é de muita gravidade. A pauta subjacente do golpe coloca em risco os direitos sociais e trabalhistas e aponta para um governo ilegítimo e um avassalador retrocesso. O golpe nessas condições interessa muito aos empresários, pois no livre jogo eleitoral e democrático o seu programa não teria chances de vitória. A população começa a perceber que a tão propagada "ponte para o futuro" do PMDB e de Temer representa um salto ao passado neoliberal para fazer o trabalhador pagar o pato. Resistiremos!