Em meio às manifestações de rua clamando por mudanças e pelo fim da corrupção, chama atenção e inquieta a carência de líderes políticos no país, capazes de canalizar as insatisfações e de acenar com alguma esperança de melhora. É o que confirma, por exemplo, a recém divulgada pesquisa Datafolha: enquanto o que restava de credibilidade do governo se desfaz de forma acelerada, a oposição não consegue firmar-se como alternativa. Cria-se assim um impasse preocupante, pois não há democracia sem partidos políticos.
Esse verdadeiro vazio de lideranças exige ainda mais atenção num momento em que o governo da presidente Dilma Rousseff tem diante de si uma série de ameaças concretas. Enquanto parcela expressiva da sociedade cobra a sua renúncia, há a possibilidade de cassação de seu mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de aprovação de impeachment pelo Congresso. São situações extremas, previstas pela Constituição, diante das quais líderes políticos deveriam demonstrar maior preparo.
O que uma crise de representação dessas dimensões indica é a falta de consistência dos partidos políticos no país, de maneira geral. O descaso com a aprovação de uma reforma política ampla fez com que a maioria das legendas atuasse hoje mais em torno de interesses específicos do que de conteúdos programáticos. O resultado é essa pobreza de opções, em que nem o governo, nem a oposição conseguem transmitir um mínimo de segurança para o futuro imediato dos brasileiros.