Quando se pensava que o final de semana seria para digerir o ácido vazamento da suposta delação do senador Delcídio Amaral, o governo foi, então, duramente golpeado com a condução coercitiva do seu grande líder político, o ex-presidente Lula. Sim, os fatos não são conclusivos, mas, em sua concretude e eloquência, não deixam de ser fatos. Se na via judicial existe todo um sinuoso devido processo legal, na instância política os danos são imediatos, impositivos e incontornáveis. E, diante de revelações assustadoras de tão graves, a ilustre senhora presidente da República, ao invés de prontamente refutá-los, preferiu exaltar a garantia da presunção de inocência...
Não faço juízo de valor; apenas analiso a situação como posta está. Objetivamente, parece que o governo, que não iniciou, também está chegando ao fim. Todavia, não se trata unicamente do final de um governo, mas de um criminoso sistema de poder. O Brasil não mais suporta a indecência de sua classe política; os brasileiros têm vergonha e nojo dos políticos que aí estão. Naturalmente, há exceções, cada vez mais tímidas e inexpressivas.
Chega. Acabou. Não dá mais. O atual sistema corrupto de poder transformou as eleições em um teatro de ilicitudes. As contas de campanha foram dominadas pela fraude, comprometendo a legitimidade das urnas. No entanto, chama a atenção o pacato silêncio da oposição. Ora, onde está o senador Aécio Neves, assumindo sua liderança com firmes gestos pela deposição imediata da atual mandatária? Não será ele o grande prejudicado pela farsa eleitoral? Ou será que sempre há um rabo preso que impede a independência oposicionista?
Lembro que João Mangabeira jamais baixou a cabeça para a ditadura getulista. Depois foi a vez de Afonso Arinos, honrando a dignidade parlamentar, enfrentar os desmandos do Catete. Adiante, em situação de absoluta anormalidade institucional e correndo todos os riscos do regime de exceção, Paulo Brossard não temeu o arbítrio militar, fazendo da tribuna do Senado um farol de lucidez em defesa da democracia, da decência e da liberdade. E hoje, temos quem?