O Brasil nunca precisou de lideranças sensatas como precisa nesta antevéspera de manifestações populares antagônicas, programadas para o próximo domingo. Pelo que se anuncia, de um lado estarão os movimentos favoráveis ao impeachment da presidente Dilma e, de outro, militantes do Partido dos Trabalhadores e de organizações que apoiam o governo. Dos dois lados, há incendiários. O risco de conflito é tão grande, que até o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, manifestou seu receio pelo "surgimento de um cadáver".
O próprio governo está assustado com a perspectiva de confrontos. Orientados pela presidente Dilma Rousseff, ministros já pedem claramente às lideranças do PT e dos partidos da base aliada para não insuflarem os militantes. A advertência é oportuna, mas insuficiente. Basta ver o que integrantes do MST fizeram na última terça-feira em Goiânia, invadindo e depredando a sede do grupo de mídia Jaime Câmara, que abriga a TV Anhanguera, a Rádio CBN e dois jornais. Intimidar a imprensa é sempre uma estratégia fascista, independentemente da visão ideológica de quem a utiliza.
É compreensível que o Planalto queira evitar a confrontação de forças. Primeiro, porque a tendência é de que os brasileiros indignados com a corrupção e com a crise econômica acorram às ruas em número muito superior ao dos seus apoiadores, predominantemente militantes partidários e integrantes de organizações sindicais e sociais comprometidas com o PT. Em segundo lugar, porque o eventual cadáver, mencionado pelo ministro do STF, cairia sem dúvida no colo do governo.
Mas a violência também não pode interessar aos cidadãos que querem mudanças no comando do país, sem ferir a lei nem a Constituição, que assegura a todos os brasileiros o direito de manifestação. É impositivo, portanto, que as lideranças dos dois lados ajam com prudência e patriotismo, controlando seus liderados para que não cometam excessos. E cabe aos administradores públicos e às forças de segurança definir áreas apropriadas e proteção a todos, de forma a evitar provocações e agressões.