Patrulhas ideológicas repaginadas estão transformando o Brasil em um país insuportável. A intolerância atual assusta. Rodrigo Hilbert entrou na mira. Fernanda Torres também. O que aconteceu com Fernandinha é inaceitável. Ao escrever no blog Agora É que São Elas artigo abordando o machismo e o feminismo nacionais, foi crucificada nas redes sociais. Invadir temas dominados por grupos militantes, sabemos, é mexer em vespeiro contaminado, pois tais grupos transformam em saco de pancadas qualquer um que tenha opinião divergente de seus conceitos canônicos.
Batizada simplesmente Mulher, a crônica de Fernanda era leve e bem-humorada. Dois dias depois, assustada com a repercussão feroz, postou novo artigo, Mea Culpa, pedindo desculpas por escrever o que escreveu. Muita gente a parabenizou pelo gesto. Eu não. Senti dor ante essas forças reacionárias que, revestidas por indisfarçável autoritarismo, cerceiam a liberdade de qualquer um que não se submeta ao ideário de seus pensamentos dogmáticos. Freud explica: "Se um paciente rejeita argumentos de forma irracional, sua lógica imperfeita evidencia negação da realidade".
A "vanguarda do atraso" atua firme e coercitivamente. No Rio Grande do Sul, o pensamento único reluz e se impõe. Parece que "tudo ainda é construção e já é ruína". O progresso, se não é o da cartilha dos eternos caranguejos de plantão, é visto como manifestação de gente alienada. Demonstrar vontade de dialogar sem preconceitos com projetos polêmicos é pedir imediato paredão de fuzilamento. Venezuela e Titanic no pampa. Com superficialidade indiscernível, nos resta proibir saleiros nos restaurantes e cores nas paradas de ônibus.
Enquanto nosso Estado definha estagnado, o Brasil pega fogo. As respostas aos problemas nacionais demoram, postergadas ante complexas dificuldades conjunturais. A dicotomia entre "direita" e "esquerda" voltou à ordem do dia.
Só na arte brasileira ainda reconheço sinais do país libertário que aprendi a amar.